O que é prioridade na cabeça do eleitorado? Em todo ano de eleição, a pergunta volta a ser debatida a partir de pesquisas em busca do perfil da população. Na hora de escolher governantes e parlamentares, supõe-se que os votantes tenham uma lista de demandas para as cidades, os estados e o país. A questão pode ser apresentada nos seguintes termos: quais os maiores problemas que desafiam a política? A resposta é preocupante.
O Datafolha acaba de publicar um levantamento sobre o tema com a opinião dos moradores em algumas capitais. Em todas as situações, um ponto em comum: educação passa longe, mas muito longe mesmo, de ser uma prioridade na visão da maioria. É um dado que revela nosso descaso com aquilo que é decisivo no desenvolvimento de um país. Não existe nação socialmente avançada com baixa formação educacional.
Antes de mais alguns palpites, aos números. Para 23% dos habitantes da maior capital, a prioridade é segurança pública. Saúde vem em segundo lugar com 16%. Para 8% dos paulistanos, o transporte coletivo aparece no topo das preocupações. Calçamento, pavimentação e buracos são prioridade para 6% dos moradores de São Paulo. E só então surge educação como algo importante para menos de 6% do eleitorado.
Não vou reproduzir aqui o emaranhado numérico das outras capitais pesquisadas pelo Datafolha. Em todos os casos, repete-se esse diagnóstico. Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre também não mostram preocupação com a qualidade do ensino nas escolas das cidades. Cenário idêntico se verifica nas demais regiões brasileiras. Até parece que está tudo bem com o desempenho de alunos, gestores e professores.
É uma lástima que assim seja. O equívoco generalizado fortalece a ala demagógica da política que despreza a educação em todos os níveis. Todos querem obras vistosas e ações de truculência como suposto combate à criminalidade. De novo: não há experiência no mundo de crescimento econômico, inclusão social e renda em alto padrão sem investimento em massa na educação. China e Europa estão aí.
O analfabetismo era uma política de Estado durante os três séculos do Brasil colônia. No Império e na Primeira República as coisas não avançaram quase nada. Manter o povaréu em níveis precários de educação formal é um projeto de poder. As pesquisas recentes mostram que essa mentalidade faz um estrago devastador até hoje. Um desafio secular.