Pessoas de 15 a 45 anos que utilizam Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) serão incluídas no grupo de vacinação contra o HPV (papilomavírus humano). A medida foi anunciada em nota técnica publicada nesta quarta-feira (3) no portal do Ministério da Saúde. Com essa ampliação, será possível fortalecer a prevenção e o tratamento das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e dos cânceres causados pelo HPV.

O HPV é uma IST associada a verrugas genitais e ao desenvolvimento de cânceres no colo do útero, vulva, pênis, ânus e orofaringe. Além da transmissão sexual, o vírus pode ser passado por contato direto com pele ou mucosa infectada. Existem mais de 100 tipos de HPV, sendo pelo menos 14 considerados de alto risco por serem cancerígenos.

No Brasil, a prevalência do papilomavírus humano foi avaliada pelo Estudo Epidemiológico sobre Prevalência Nacional do HPV (POP-Brasil), que incluiu homens e mulheres sexualmente ativos entre 16 e 25 anos. O estudo revelou uma prevalência geral de 53,6% de HPV, sendo 35,2% com pelo menos um dos genótipos de alto risco. Entre os entrevistados, 50,7% afirmaram usar preservativos regularmente e 12,7% relataram ter tido uma IST anteriormente.

O diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e ISTs da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), Draurio Barreira, explica que oportunizar o acesso à vacina HPV4 para usuários da PrEP é uma ação com impacto na prevenção das neoplasias relacionadas ao HPV para populações de maior vulnerabilidade às ISTs.

“Até março de 2024, 82% das pessoas que estavam em uso de PrEP eram homens que fazem sexo com homens e 3,2% mulheres trans e travestis. Sabemos que diversas barreiras relacionadas aos determinantes sociais, em especial ao estigma, tornam esses segmentos populacionais mais vulneráveis ao HIV, às ISTs e aos cânceres causados por HPV”, detalha.

 

Imunização

Uma forma segura e eficaz de prevenção da infecção é a vacinação. O SUS oferece o imunizante quadrivalente (HPV4), que protege contra as principais complicações da doença. Atualmente, o público-alvo é composto por crianças e adolescentes de 9 a 14 anos, no esquema de dose única; pessoas de 9 a 45 anos que vivem com HIV e Aids; pacientes oncológicos, pessoas com papilomatose respiratória recorrente (PRR), e transplantados com três doses; e pessoas de 15 a 45 anos de idade imunocompetentes vítimas de violência sexual. Com essas recomendações, o Brasil é um dos países das Américas que mais ofertam a vacina.

Segundo a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), desde o início da vacinação contra o HPV no SUS, em 2014, 75,8% do público feminino tomou a primeira dose e 58,2% tomou a segunda em todo o Brasil. O registro de imunização do sexo masculino, que começou em 2017, está em 53,1% na primeira dose e 33,2% na segunda. Os dados são disponibilizados pelos estados e municípios e podem sofrer alterações conforme o sistema é alimentado.

O esquema de dose única para crianças e adolescentes imunocompetentes foi adotado recentemente pelo Ministério da Saúde. A ideia é intensificar a proteção contra o câncer de colo do útero e outras complicações associadas ao vírus. A estratégia segue as recomendações mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Com isso, a pasta praticamente dobra a capacidade de imunização dos estoques disponíveis no país.

 

Entenda o que é a PrEP

A PrEP é uma das formas de prevenir a infecção pelo HIV, caso ocorra exposição ao vírus. Para isso, é necessário tomar diariamente uma pílula que contém dois medicamentos: tenofovir e entricitabina. No entanto, é importante ressaltar que a profilaxia pré-exposição não impede a infecção por outras ISTs.

O medicamento é indicado para pessoas a partir dos 15 anos, sexualmente ativas e que apresentam risco aumentado para aquisição da infecção pelo HIV. Pode ser prescrita por enfermeiros, farmacêuticos e médicos da atenção primária à saúde ou dos serviços especializados. Atualmente, existem 939 unidades dispensadoras (UDMs) de PrEP em 540 municípios brasileiros.

Em março de 2024, aproximadamente 84.926 pessoas usavam a PrEP. Destes, 82% são homens que fazem sexo com homens, 3,2% mulheres trans e travestis, 6,7% homens cisgêneros heterossexuais e 5,8% mulheres cisgêneros.

O acesso à vacina contra o HPV para os usuários de PrEP é uma ação de impacto na prevenção de neoplasias nas populações desproporcionalmente afetadas, como gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e as mulheres trans. Além disso, a ampliação não afeta o público inicialmente contemplado.

 

Recursos

Em 2023, o governo federal retomou temáticas como prevenção de violências e acidentes, promoção da cultura de paz e direitos humanos, saúde sexual e reprodutiva, além de prevenção de HIV/ISTs nas escolas. O Ministério da Saúde destinou mais de R$ 90 milhões para os municípios que aderiram ao Programa Saúde na Escola (PSE). O ciclo 2023/2024 alcançou recorde histórico de adesões, com 99% das cidades brasileiras habilitadas ao recebimento do recurso.

 

*Com Agência Gov