A esquerda não se dá bem com a comunicação pelas redes sociais. Com algumas variações, este é um pensamento corrente na imprensa, em salões acadêmicos e em botecos que acolhem a turma dos modernos. De tão reproduzida, a ideia se desgarrou de alguma origem um dia verificável e apagou qualquer traço de autoria que teria existido. Temos aqui um fenômeno universalmente comum. Resta então o clichê em estado bruto.

Essa tese, espalhada por ideólogos em geral, vira regra em convescotes progressistas após a eleição de Donald Trump em 2016. A partir daí vai escalando degraus e alcança o topo na vitória de Bolsonaro em 2018. De lá para cá, as disputas políticas no Brasil e no mundo vão confirmando a hegemonia da ultradireita na guerra partidária travada pela internet. A convicção geral não muda nem mesmo com a eleição de Lula em 2022.  

Neste cenário, um debate na esquerda segue incendiando plenárias e rodas de vinho em ambientes descolados. (A revolução começa assim). Rebeldes festivos e intelectuais influentes tentam responder às mesmas perguntas. Onde erramos? Por que a direita segue mais eficaz nas redes? E o que fazer para brigar em condições de igualdade? Diagnóstico em mãos, aí sim seria possível montar um plano de ações para virar o jogo.

Por enquanto ninguém se entende. Digo isso pelo que se publica com a assinatura do centro, da esquerda e da “direita civilizada”. Os autointitulados pragmáticos defendem a adesão aos métodos do inimigo. Uma antiga tática de batalha que atravessa os séculos. Essa ala festeja figuras como o deputado André Janones. Por aí, as fronteiras entre verdade e mentira se tornam mais fluidas. É o modelo Carluxo do “lado do bem”. 

Janones anda em baixa após o flagrante de rachadinha com servidores de seu gabinete da Câmara. Mas os métodos do guru continuam em alta para muitos na militância à esquerda. Outra ala prega ação aguerrida, mas com depuração nos modos. É preciso ser mais ágil e mais “assertivo” (desculpem) sem depreciar padrões éticos de conduta. Baixaria e fake news são coisas da extrema direita, alegam os que estão nessa faixa.

Sendo a turma de Bolsonaro tão dominante nesse jogo – como todos dizem –, a vitória de Lula em 2022 resta como contradição a ser explicada. Se a estratégia virtual decide a parada, o enigma permanece à espera de veredito. O fracasso da máquina bolsonarista seria a demonstração de que a tese sobre o caráter determinante das redes tem buracos. Seja como for, o papel dessa variável estará no centro da eleição de 2026.

Regulação das plataformas e criminalização de fake news à parte, associar a esquerda a uma pureza moral na política é fantasia. A única explicação para tal ideia é a disposição atávica de condenar os rivais e livrar a cara dos nossos – não importam os fatos e as circunstâncias. Por que uns e outros são mais (ou menos) eficientes no submundo virtual, não faço ideia. Os muitos debates seguem a produzir firulas e muita ficção.