A eleição para prefeito na maior capital do país é, de longe, a que mais reproduz a polarização entre esquerda e direita, lulismo e bolsonarismo. Já era assim desde os primeiros lances da pré-campanha que começou lá no ano passado. O cenário se tornou ainda mais crispado entre essas forças com a entrada em cena do coach Pablo Marçal, um aventureiro sem qualidades conhecidas no mundo real. E no imaginário também.

A direita tem como o primeiro representante o atual prefeito que tenta a reeleição, Ricardo Nunes, do MDB. O cara chegou à cadeira por uma dessas tramas do destino. Vice de Bruno Covas, do PSDB, assumiu a prefeitura em 2021 após a morte do tucano aos 41 anos de idade, vítima de câncer. Com carisma idêntico a uma porta, Nunes tem a vantagem de concorrer assentado na poderosa máquina pública. Mas o páreo é duro.

Pela esquerda raiz, Guilherme Boulos, do PSOL, é a cara do campo aliado ao presidente Lula. Ele disputa o cargo pela segunda vez. Na eleição de 2020, chegou ao segundo turno, mas não ameaçou a vitória de Covas. Chega para a nova tentativa mais forte, turbinado pela força de Lula – que venceu Bolsonaro na capital paulista no duelo de 2022. Esse fator é visto como indicador de êxito para quem combate o bolsonarismo.

Nas últimas semanas, três pesquisas divulgadas mostram um empate técnico entre Boulos e Nunes, com alternância numérica na dianteira, dentro da margem de erro. Eles variam entre 27% e 30% das intenções de voto. Fechando aliança com o prefeito, o PL de Bolsonaro impôs o candidato a vice, um coronel da Rota com fama de matador. Nunes quer ser o aliado de Bolsonaro com polidez – pra não afugentar o eleitor mais sadio.

No meio do caminho, apareceu Pablo Marçal, uma figura grotesca do submundo da extrema direita forjado nas redes sociais. Trata-se de um arrivista que ficou milionário enganando otários com aulas de autoajuda. Um influencer. Mas tem público para suas trambicagens. Cravando entre 10% e 15% das intenções, ele está no jogo. Pior para Nunes, porque o coach pesca votos à direita, minando o eleitorado que seria do prefeito.

Bolsonaro e o PL tentaram impedir a candidatura de Marçal, mas até agora fracassaram na investida sobre o parceiro ideológico que ensaia voo próprio. O coach picareta sonhava com o apoio do ex-presidente. Não conseguiu, mas, mesmo assim, mantém sua disposição de concorrer. A situação põe a ultradireita numa quadra perigosa. Além de encarar o inimigo natural, Boulos, a pancadaria se dá dentro de casa.

Não bastasse o quadro já turbulento para a turma de Bolsonaro, ainda tem Luiz Datena, outro que corre pela via da direita. É muito reacionário para o mesmo voto. No desenho atual, parece lógico entender que isso ajuda o candidato do PSOL. A deputada Tabata Amaral, pelo PDT, não mostra fôlego para brigar nas cabeças. Patina na casa dos 4%.

Lula e Bolsonaro jogam pesado numa briga que, embora municipal, tem a dimensão e o simbolismo de ser a capital paulista. Os dois lados avaliam que uma vitória na prefeitura de São Paulo é boa largada para a corrida que de fato interessa – a parada de 2026. Daí porque a eleição deste ano sintetizar a guerra que estressa o país desde 2018. Por aí.