Alagoas. Ou “Lira Land”. A Terra de Arthur Lira. Assim o jornalista José Roberto de Toledo, colunista do UOL, se referiu ao presidente da Câmara ao comentar suas emendas destinadas à Barra de São Miguel. O prefeito do município é Benedito de Lira, pai do parlamentar. A repórter Thais Bilenki, também do UOL, foi até a cidade conferir a aplicação dos recursos obtidos pelo filho do prefeito. As emendas saíram em 2022.

O dinheiro liberado, e já nas contas da prefeitura, deveria ter sido investido na construção de um mirante e de um terminal lagunar. Mas a repórter não localizou nenhuma dessas realizações para a população. Apenas terrenos baldios. Mais de dois anos depois de a grana cair nos cofres municipais, não há sinais do que deveria ter sido erguido. Somadas, as emendas de Lira para o pai passam de 1,4 milhão de reais.

Tudo bem. A repórter não levanta qualquer suspeita de irregularidade na destinação dos recursos. Num podcast do portal, ela informa o que disse a assessoria do deputado. A explicação oficial é, em resumo, burocracia. As obras estão em fase de licitação e elaboração dos projetos. Curiosa foi a reação de Benedito ao falar com a jornalista. Ele disse nunca ter ouvido falar em “terminal lagunar” para a cidade que administra. 

O que me chamou atenção mesmo foi o “Lira Land” e essa coisa de um parlamentar cavar emendas do orçamento da União para uma prefeitura chefiada por alguém de sua própria família. Não que o presidente da Câmara seja o único ou tenha inventado essa fórmula. E esse é que é o grande problema. É tradição no mecanismo do Congresso e do governo. Tudo dentro da lei. Todo mundo faz a mesma coisa. Por isso é tão imoral.

Já o fato de o jornalista rebatizar Alagoas com o nome do deputado revela o tamanho de Arthur Lira. Não é uma boa imagem para o estado. Parece um retorno aos tempos em que um coronel teria poder absoluto sobre os destinos de uma população – o que não é o caso, naturalmente. Foi um exagero, uma forçada de barra, digamos assim. 

Mas, como todo exagero e toda caricatura, o quadro tem algum fundo de realidade. Não que o estado tenha regredido aos tempos de um coronelismo de modos truculentos, acima das leis. Seria demais. Avançamos, afinal. Talvez a expressão Lira Land diga mais sobre a impressão do colunista sobre o político. Sobre Alagoas, não cabe.