Em 1997, o Banco do Estado de Alagoas (Produban) foi extinto e o governador Divaldo Suruagy perdeu o cargo. É uma longa história. Não é que uma coisa explique a outra de modo direto e exclusivo. A bagaceira que tomou conta da realidade alagoana ali é muito mais complexa. Mas, sim, a crise econômica estadual passava diretamente pela situação na qual o banco se encontrava havia muitos anos. E o Plano Real com isso?

Não, a engenharia que salvou o Brasil da inflação não é a vilã na morte do nosso Produban. Na verdade, é o contrário. Não só em Alagoas, mas em todo o Brasil, os bancos estaduais representavam um entrave para o saneamento fiscal, monetário e financeiro do país. Criados ao longo do século 20 – o Produban é de 1963 –, essas instituições deveriam fomentar o desenvolvimento das diferentes regiões brasileiras.

No papel, a prioridade seria o financiamento para diferentes setores produtivos – no comércio, na indústria e no velho agronegócio. Nada mais urgente num país que precisava crescer e gerar renda, de forma descentralizada num território continental. Mas quem disse que a teoria combina com a prática num caso desses? Pense bem. Um banco nas mãos de grupos políticos, sob as ordens dos governadores de turno.

Não havia perigo de dar certo. Tinha tudo pra dar errado. E deu. Rapidamente os bancos estaduais passaram a suprir as demandas paroquiais e partidárias. Era uma farra a perder de vista nos cofres públicos. A instituição emprestava qualquer valor por ordem expressa do governador, sem garantias de pagamento, e ficava por isso mesmo. O rombo nos balanços era remendado pelo Banco Central com emissão de dinheiro.

É uma das pontas na receita mortal para a explosão inflacionária. Quando o Plano Real mudou as práticas na gestão fiscal, a bomba explodiu no setor bancário – público e privado. Banco Econômico, Bamerindus e Nacional, três titãs do sistema financeiro, quebraram no primeiro ano do Real. A explicação era tão simples quanto escandalosa: os bancos lucravam com a inflação. Sem a festa da “ciranda financeira”, dançaram.

A partir de 1995 o governo, por meio do Banco Central, varreu do mapa os bancos e agências de empréstimos em todo o país. Foram mais de 100 intervenções. Era uma etapa crucial para implantar sem volta as diretrizes do Real. É nesse arrastão – imprescindível, reitero – que os bancos estatais se tornam inviáveis. A crise levou junto o alagoano Produban e o Banespa, o banco público do maior estado do país.

A morte do Produban foi um processo longo e penoso. Um plano de demissão não deu aos funcionários o que realmente mereciam. Mas não havia alternativa. No meio do caminho da revolução do Real, que mudou a história do país – para melhor – estava um inimigo que teria de ser eliminado. Os bancos estaduais eram um crime contra o povo.