A cada ano eleitoral, um conjunto de crenças, mitos, lendas e fantasias sai das sombras e reaparece no meio do noticiário. Boataria e fatos reais se misturam com a naturalidade do curso das horas, de um dia depois do outro. Seria tudo verdade? Por mais que desafie a lógica, todo esse folclore tem base verdadeira. Da conquista de votos ao financiamento da campanha, todas as etapas teriam ligações com práticas fora da ordem.

Cadastro de eleitores. É um recurso que, ao que parece, toma conta de praticamente cem por cento do ambiente na disputa por uma cadeira de vereador. É o caso deste ano. A caça ao voto se dá mais no corpo a corpo, nos bairros distantes, nas periferias, nas favelas, nas localidades mais carentes. Um cadastro consistente é tiro e queda.  

Assalto a banco e a carro forte. Não lembro a última vez que li sobre essa “tradição”. Nos anos 90 e já no século 21, muito se escreveu sobre a relação entre ataques a agências bancárias e eleições. O dinheiro levado seria para financiar campanhas. Em ano de eleição, explodia o número de assaltos. Essa relação, porém, nunca ficou provada.

Líder comunitário e território demarcado. Vereadores e deputados estaduais demarcam as áreas nos bairros da capital. Um não entra no espaço do outro. Lembra os métodos daquela organização de origem italiana que dominou a América. Essa parada é tão séria que já houve mais de um assassinato na disputa territorial. 

Candidato da usina. Minha família é da chamada Zona da Mata, por ali entre Capela, Cajueiro e Viçosa. Desde os primórdios, ouvia alguém falando em casa sobre o nome imposto pelos usineiros. O prefeito a ser eleito era o indicado pelos donos da indústria do açúcar. Tudo a ver com a herança dos tempos de engenho, de coronéis e jagunços.

Panela, tijolo e dentadura. Quando se aproxima a temporada eleitoral, o comércio de certos produtos ganha impulso. Na campanha, há distribuição de utensílios domésticos, material para construção e até prótese dentária aos desvalidos. A lista de demandas não tem restrição. Se estiver à venda no mercado próximo, a entrega é garantida.

Candidato laranja. Um clássico. Há um paradigma em setores da política segundo o qual não se entra numa eleição sem a figura de um “laranja”. É praticamente um dogma para certos estrategistas. Na primeira reunião de trabalho no comitê, o primeiro ponto a ser respondido é: e o laranja, quem é? Resolvido isso, ao trabalho. 

Você pode lembrar de outros tipos de lendas e verdades na guerra política pelo voto. Certamente não dei conta de tudo o que se passa no calor de uma campanha. Alguns desses aspectos podem ter sido descartados ou substituídos. Outros, como o laranja, segue imbatível, até na eleição presidencial – como mostrou aquele padre de fogueira.