Tanques na rua. Uma tentativa de golpe de Estado contra o boliviano Luis Arce. Um general tipicamente general invadiu a sede do governo e danou-se a dar ordens ao presidente do país. A presepada durou algumas horas. No momento em que escrevo, a normalidade já estava restaurada. O patriota do golpismo foi preso. Diz ele que agiu por ordem do próprio presidente, que teria tramado um autogolpe. Não faz muito sentido.

As redes sociais do bolsonarismo correram para elogiar o movimento golpista. Gente com e sem mandato – inclusive em Alagoas – expôs uma tremenda excitação diante de tanques e homens marchando sobre La Paz, capital da Bolívia. Rapaz, pense numa tara por bombas, ordem-unida e truculentos fardados! Os cidadãos de bem por aqui fizeram postagens com certa melancolia – porque o golpe de Bolsonaro e sua gang fracassou.

Então, sem um golpe pra chamar de seu, desqualificados deram pinotes de alegria com a virtual tomada de poder no país vizinho. Essas desgraças não aprenderam nada, nunca vão se recuperar e estarão sempre de prontidão para apoiar a violência contra as regras do jogo. Aqueles cartazes da “intervenção militar com Bolsonaro presidente” tinham origem, método e objetivo. Delinquentes da “nova política” seguem em ação.

O movimento de agora na Bolívia atualiza de modo tragicômico a perversa tradição do golpismo na América do Sul. Que destino! Um continente inteiro atravessado por uma tendência à sabotagem das instituições, dos direitos humanos e das liberdades. Esta foi a marca mais expressiva na história de tantos países ao longo do século 20.

Pois nem o século 21 da festejada era digital foi capaz de arquivar para sempre essa maldição sul-americana. De quando em quando, porcarias tentam se impor pela força das armas, com o vagabundo discurso de defesa da pátria. Os anos Bolsonaro nos deram uma coleção desse tipo, oficiais e generais adeptos à bandidagem do golpe.

Historiadores e estudiosos em geral discordam sobre a forma, os meios e o alcance do golpe gestado no bolsonarismo. Há versões opostas e complementares sobre o que se passou no Brasil recente. Seja o que for, como diria Leonel Brizola, os “filhotes da ditadura” estão sempre na moita para a emboscada. Às vezes, a História anda para trás.

Não foi o caso do Brasil, que rechaçou a investida de Bolsonaro e seguidores do capitão da extrema direita. Não será o caso da Bolívia agora, ao menos pelo que se viu nas horas seguintes à tentativa de levante. As duas situações servem de alerta para uma vigilância permanente contra saudosistas do golpe, sedentos por coturnos e tortura.