O governador Paulo Dantas anunciou o fim de seu casamento com a ex-prefeita de Batalha Marina Dantas, com quem viveu por 27 anos. Não, o texto não vai tratar da vida particular do chefe do Executivo estadual. A intimidade das pessoas, sejam anônimas ou celebridades, é um dos temas que monopolizam a atenção da imprensa. Acho apenas tedioso. Vou escrever sobre esse interesse, essa fixação que enlouquece multidões.

Falei da imprensa como espaço para essa pauta, mas tal escolha não nasceu do nada, é claro. O fanatismo pela vida privada está na cabeça e na rotina da maioria das populações em qualquer parte do mundo. A evasão de privacidade é o alucinógeno dos dependentes que perderam o controle após as redes sociais. Estão nas paróquias e nas metrópoles, nas faixas que vão da adolescência ao clube de velhinhos e velhinhas.

É um destino sem volta. Todos querem se exibir e querem bisbilhotar os exotismos mais íntimos do outro, sem limites para o constrangimento e o ridículo. A divulgação do governador nada tem a ver com isso, mas acaba por atrair atenção baseada nessa tara pela privacidade alheia. As redes sociais – que nasceram com a falácia de interação ente amigos – se tornaram rapidamente a quintessência de um vício universal.

Fui ao Instagram de Paulo Dantas conferir sua publicação. O acesso é aberto, como ocorre com todas as autoridades, por razões óbvias. Ele tem mais de 250 mil seguidores e atrai curtidas e comentários na casa dos milhares. A maioria das postagens fala das ações de governo e parcerias políticas. Mas, sem surpresa, as publicações que mais fazem sucesso são aquelas de ordem pessoal. A vida particular gera atração fatal.

Uma foto com os filhos, o aniversário de alguém da família, uma brincadeira no momento de lazer, a musculação na academia – qualquer coisa assim tem mais ibope do que o anúncio sobre uma grande obra ou a inauguração de uma escola. Foi assim com o post sobre o fim do casamento com Marina Dantas. É a publicação com o maior número de “curtidas”, bem à frente de qualquer outro tema tratado pelo governador.

De novo, nada que surpreenda. Mas, ainda assim, é algo realmente trágico a fixação pela vida do outro. É vasta a literatura que tenta explicar a inclinação que parece inscrita em nosso DNA. Morbidez, futilidade e vulgaridade resumem a experiência humana, numa espécie de circo especializado em números do campo do grotesco. Quanto pior, pior.

A publicação do governador nada tem de errado. Como figura pública, no cargo que exerce, é um gesto de transparência. Outros já o fizeram. É até uma obrigação, pensam alguns. Mas o tipo de interesse que desperta, este sim, é sintoma de uma bagaceira. Digamos que se trata de um colapso de ordem cognitiva e existencial. Por aí.