Ao tramar o regime de urgência para o PL do estuprador, Arthur Lira agiu para se fortalecer na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Em Brasília, ninguém mais tem qualquer dúvida sobre a manobra do alagoano. Ele faz de tudo para emplacar um sucessor que lhe seja mais que aliado – quer eleger um nome sobre o qual possar dar ordens. Ao tocar adiante o tal PL, atendia a demandas da poderosa bancada evangélica.

Ocorre que o aceno para a turma da extrema direita na Câmara também foi um golpe baixo contra o presidente Lula. E isso ficou claro nas palavras do relator do PL, o desqualificado Sóstenes Cavalcante. Segundo ele, a Câmara iria aprovar o projeto para “testar Lula”. O que isso significa? Todo mundo entendeu. Seria uma chance de envenenar ainda mais a relação do segmento evangélico com o presidente. A virtual armadilha: Lula vai vetar? Qualquer escolha do presidente é confusão na certa.

O imperador da Câmara tenta o apoio de Lula para seu candidato. Já conversou com o presidente mais de uma vez. Para obter êxito nessa costura, o parlamentar se compromete a dar prioridade a pautas de interesse econômico do país. É o que governo necessita. Como o próprio Lira gosta de alardear, temos aí um acordo político sobre o qual não pode haver vacilos com a “palavra dada”. Foi o contrário do que ele fez.

O deputado tentou, na prática, mais um lance de chantagem. Se o troço avança no plenário, lá estaria de novo o presidente às voltas com um novo dilema sobre o que fazer com a bomba armada pelo parlamento. Para evitar o pior, Lula teria de recorrer ao “dono” da Câmara para negociar uma saída. A velha jogada de criar a encrenca para vender a solução. Lira não contava com a reação poderosa que veio de todos os lados.

Perdeu. As declarações do presidente – a primeira quando ainda estava no exterior – atestam que Lira viu sua estratégia naufragar. Nesta terça-feira, Lula voltou a bater forte no PL do estuprador – mais uma evidência da derrota do deputado. Ao menos por enquanto, as chances de o governo apoiar o candidato do alagoano à sucessão na Câmara desabaram. E as razões podem ser resumidas assim: Lula constatou que Artur Lira não é confiável. A ver como reagirá o irascível mandachuva que não admite a derrota.