“Velha imprensa” é das expressões mais citadas pela turma de Bolsonaro e da extrema direita. A categorização é usada como ataque ao jornalismo profissional. Toda reportagem vista como negativa pela seita, não dá outra: isso é coisa dos jornalões, da TV Globo e da Veja – a velha imprensa. Tremenda ironia que as vozes que mais recorrem a essa condenação sumária fizeram carreira nesta mesma “velharia” brasileira.
Exemplos não faltam, mas um dos casos mais estridentes é o da revista Oeste, criada por Augusto Nunes, o cara que mandou no Estadão, na Época, no Jornal do Brasil, na Veja e no Zero Hora. Ou seja, estamos falando de um medalhão com história de peso e de várias décadas. A Oeste tem um site e um canal no YouTube. Nesta plataforma, a turma tem mais de dois milhões de inscritos. É militância disfarçada de jornalismo.
Além de Nunes, a linha de frente da Oeste tem Alexandre Garcia, Silvio Navarro, Adalberto Piotto, Rodrigo Constantino e Paula Leal. Todos com rodagem nos veículos da chamada grande mídia. De quebra, a ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel enfia sacadas com uma fúria que assombra antigas colegas de quadra. Se é problema, para essa galera é tudo culpa do PT, da esquerda e do Lula. Porque eles são “imparciais”.
O grupo foi bater no YouTube após conseguir a façanha de incomodar os reacionários controladores dos veículos em que atuavam. Eles são mais extremistas do que eram a Jovem Pan e a Veja no auge de seus piores momentos. Pense na histeria em defesa de Bolsonaro e tudo o que esse estadista representa! O panfleto virtual cumpre aquilo que propõe ao virar referência para o esgoto ideológico dos patriotas.
O programa Sem Filtro é o carro-chefe da revista, com exibição ao vivo, de segunda a sexta-feira. Diga-se a verdade, Augusto, o cérebro no negócio, não reproduz o amadorismo dominante nesse tipo de investida que se vê no YouTube. Apostou numa linguagem careta, com engravatados como se estivessem num telejornal da velha TV. Tudo muito sisudo. A julgar pelos números da audiência, acertou seu público.
Ok, jornalistas à esquerda que hoje habitam canais alternativos também esculacham a “velha imprensa”. Mas aí é mais previsível, digamos assim. Exotismo mais grave é que isso esteja no discurso de Augusto Nunes. Até ontem, veja só, era ele quem esculhambava os “blogs sujos”, assinados por nomes que deixaram os grandes meios e atacavam as antigas redações. Quanta coisa muda em tão pouco tempo.