Esta é uma daquelas notícias com tantas bizarrices que nem sei por onde começar. Não à toa, a coisa mistura política e futebol. O perigo de dar certo é zero. Primeiro, descobri a existência de Brivaldo Marques, um vereador que abrilhanta a Câmara Municipal de Maceió. Esse rapaz, que foi prefeito comunitário do Benedito Bentes, destinou quase 700 mil reais ao CSA, por meio de uma emenda ao orçamento da prefeitura.

O jovem Brivaldo (do PL bolsonarista) é genro de Rafael Tenório. O megaempresário Tenório era presidente do CSA até um dia desses. Em tabelinha mortal, o vereador avançou pela ponta direita e cruzou um belo valor para o sogro. Na boca do gol, era tocar pra rede – quer dizer, para os cofres do Azulão. Aí, correr para a torcida.

Mas algo embolou na pequena área. Tenório renunciou à presidência, bem antes do fim do mandato que iria até 2026. Eis que, antes que a grana caísse no clube, o vereador mudou de ideia, como se fizesse um gol contra. Decidiu redirecionar sua emenda, mudando o destino do dinheiro para a prefeitura comunitária do Benedito Bentes.

Vejam as coincidências! O genro manda recursos para o time presidido pelo sogro. Este deixa o cargo, e o genro, na lata, retira o repasse. A repercussão da jogada ganhou as manchetes da crônica esportiva e estremeceu as arquibancadas nas redes sociais. Mirian Monte, a presidente que assumiu após a renúncia de Tenório, protestou.  

Diante da zoada, o genro de Tenório divulgou nota para explicar a bola fora. Ele nos tranquiliza falando de seu “compromisso com o desenvolvimento do esporte” como “prioridade” em sua jornada. Também alivia nossa apreensão ao garantir “compromisso com a transparência e a responsabilidade na aplicação dos recursos públicos”. 

Na mesma nota, o vereador informa o real motivo de desistir do repasse ao CSA. O fator “decisivo” foi “a falta de comunicação” por parte do clube. “Em momento algum fui procurado pela direção do CSA para discutir a aplicação dessa emenda ou para esclarecer qualquer dúvida sobre a sua utilização”. Mirian Monte rebate esse argumento.

Segundo ela, “todas as providências que cabiam ao clube foram realizadas para o recebimento dos recursos”. A presidente acrescenta que “o diálogo sempre esteve aberto, mas nunca fomos procurados pelo vereador”. Fato é que o clube perdeu o jogo, uma vez que o drible do vereador não tem volta. O repasse foi cancelado.    

A resenha expõe a política no varejo. Quem perde de goleada é a sociedade, a população de Maceió. A notícia tem o mérito de revelar como autoridades tratam a coisa pública. Recursos do orçamento municipal são usados assim, com essa ginga entre genros, sogros e times de futebol. O interesse público sequestrado por demandas particulares.