Imagine um mundo no qual fanáticos religiosos e parasitas de extrema direita decidem o que você pode ou não fazer com seu corpo. Essa é a distopia regada no PL do estupro, o projeto que equipara o aborto ao crime de homicídio. O presidente da Câmara, Arthur Lira, não contava com a revolta popular contra essa excrescência que ele incentiva. O agravante é que a posição do deputado decorre de seus interesses politiqueiros.   

Os mentores da ideia repugnante tratam o corpo da mulher como moeda de troca em suas armações na busca de poder. Nenhum desses elementos da Câmara tem preocupação com a saúde e a integridade da vítima de estupro. Jogam com a vida de seres humanos para barganhar vantagens na política. É o que faz o senhor Lira, em sua obsessão por eleger seu sucessor na presidência da Câmara. O resto, para ele, é o resto.

É claro que a coisa vai muito além das vontades desse estadista. O pior Congresso da história foi sequestrado por indigentes que rebaixam à lama o parlamento do país. Alienadas das demandas sociais que precisam de respostas eficazes, as charangas de extremistas apostam no caos. Tudo vai para a vala comum da agenda de costumes. É o território das bancadas da bala, do boi e da bíblia – hoje anabolizadas como nunca. 

“Criança não é mãe, e estuprador não é pai”. Essas duas sentenças seriam obviedades sobre as quais todos deveriam estar de acordo. Seriam. Mas como estamos no país de Lira, Bolsonaro, Malafaia e assemelhados, o óbvio tem de ser expresso em faixas e cartazes para barrar o abominável. Foi o que ocorreu, mais uma vez, neste sábado, pelo Brasil afora. O domingo também deve ser de protesto contra o PL indecente. 

Reportagem de Thayanne Magalhães, na Tribuna Independente, traz a posição de dois deputados da bancada alagoana. Rafael Brito condena o projeto e lembra que “não se pode exigir que uma criança estuprada mantenha uma gestação”. Já o delicado Fabio Costa é um entusiasta do PL do estuprador. Quem diria! Ele argumenta com um papo furado sobre “embriologia” e “vida extrauterina”. (Vou ali vomitar um pouco).

Sigamos. Alvo de um bombardeio de críticas, o presidente da Câmara faz de conta que tá tudo bem e olha para o outro lado. Não adianta. Não tem essa conversa de “debate do texto” com a escolha de uma relatora “moderada”. Esse lixo tem de ser arquivado em definitivo – porque violenta a mulher e joga o Brasil nas trevas do mundo medieval.