O Estadão acaba de produzir um escarcéu ao “denunciar” a existência de um “gabinete do ódio” a serviço do governo Lula. O estranho é que, pelo que entendi, o negócio seria tocado por um único cara, de quem nunca tinha ouvido falar. O nome dele é Thiago dos Reis, dono de um canal no YouTube chamado Plantão Brasil. Fui dar uma olhada. Achei fraco. O rapaz parece um ator canastrão com dificuldade de combinar fala e gestual.

Como no mundo virtual a canastrice passa por qualidade – que o diga Pablo Marçal –, isso não é problema para quem gosta do tipo. Ele tem mais de um milhão de seguidores com um conteúdo que, para mim, soa entediante. Diz a reportagem do Estadão que os vídeos já alcançam mais de 1 bilhão de visualizações. O que chamou atenção foi o barulho que o jornal fez. Parece aqueles casos de escândalo sobre o nada.

Mas a tropa da extrema direita já partiu pra cima com acusações ao governo. O Plantão Brasil receberia financiamento público. Numa entrevista coletiva patética, deputados bolsonaristas vieram aos gritos propor CPI para apurar os fatos (foto). No grupo estão Marco Feliciano, Caroline de Toni, Carla Zambelli, Bia Kicis e outros mequetrefes. A iniciativa da turba na verdade foi resultado de uma ordem de Jair Bolsonaro.

Sim, o inelegível golpista entrou na história assim que o jornalão paulista pintou com o carnaval produzido sob medida para a extrema direita. Digo isso porque a matéria não é caso isolado na campanha sistemática que o Estadão desencadeou desde o primeiro momento do governo Lula. Não é por acaso que Eurípedes Alcântara está no comando, após demissão da Veja e rápida passagem em O Globo. O velho método. 

A cobertura do jornal – que conta também com José Roberto Guzzo e Willian Waack – lembra a Veja no auge da guerra contra Lula e Dilma. Após a degradação institucional dos anos Bolsonaro – e, no meio, o vexame da imprensa subordinada à Lava Jato –, nada mudou. Ainda estamos longe daqueles dutos que despejavam dinheiro às costas de Willian Bonner e Renata Vasconcelos. Mas basta um pretexto, e já era.

Voltando ao gabinete do ódio, não se pode negar à extrema direita o domínio das patentes intelectuais sobre a invenção. A verdade é que basta um indivíduo para produzir uma máquina de reprodução de falsidades. Foi o que a família Bolsonaro aprendeu e distribuiu a seus seguidores Brasil afora. Rastaqueras da política alagoana estão nessa.