O mundo mudou. A política também. Hoje o deputado e o senador são cobrados minuto a minuto. Quem disse isso foi o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, em entrevista à Jovem Pan na noite desta segunda-feira. Ele formulou a platitude ao responder a uma pergunta sobre a articulação do governo Lula com o Congresso. Pelo raciocínio, as decisões precisam se guiar pelo falatório das redes sociais.
Embora não sendo mais novidade para ninguém, o triunfo da esfera virtual no jogo da política não é algo unidimensional. A velocidade, a interação ao vivo, as reações imediatas e o alcance de um discurso são alguns dos itens dessa realidade que revirou a vida privada e as relações públicas. Mas cada um desses aspectos tem implicações distintas, níveis diferentes de adesão ou repulsa, repercussões variadas.
Entre tantas variáveis, penso numa das consequências mais graves neste admirável mundo novo. A militância na era da tela plana dá protagonismo ao político descerebrado, refém da gritaria sem qualquer mediação ética e racional. É o terreno também para o escarcéu de patifes que não param de latir em defesa de qualquer causa, por maior que seja a bizarrice. O que importa é a lacração e a conquista de novos seguidores.
É um jogo do perde-perde para a sociedade. Não há alternativa. Quanto mais patifaria, mais seguidores, e vice-versa. Nesse embalo, o vereador sai atirando contra a “ideologia de gênero que ameaça as criancinhas”, e seu receptor sai babando atrás de mais “inimigos” para combater. Os dois lados se embolam na guerra a terríveis ameaças do planeta imaginário – e nada mais importa além da retroalimentação sem fim.
Engajado na linguagem da nova era, o deputado com fama de truculento posta todo dia uma barbaridade no Instagram, de preferência fazendo pose com pistola. A deputada antifeminista surge cheia de firmeza, em defesa da família tradicional, no modelito recatada e do lar. Já o prefeito descolado aparece com mais uma dancinha, um rebolado, quebrando no piseiro. Os muitos tipos variam de acordo com o nicho animal.
Escancarada nesse mundaréu do grotesco está a covardia. Os fanfarrões vendem a imagem de valentia, mas o comportamento de todos atesta o contrário. Os “valentes” das redes sociais seguem à risca as ordens da turba de seguidores. Fazem careta, balançam a cauda e mexem as patas ao sabor das curtidas ou das ameaças de cancelamento. Exibem a imagem fake de coragem, mas são covardes adestrados.
E é sob o adestramento imposto por seus milhares de seguidores que os subservientes da nova política tomam decisões acerca do país. Não adianta constatar que “o mundo mudou”, como diz Marconi Perillo. Ele está certo, é óbvio, mas o buraco é um abismo. Como não sou um cara afeito ao sobrenatural, penso que tudo vai piorar. Vamos às urnas daqui a quatro meses. E o que há de novo? Pistoleiros e dançarinos? É por aí.