O sufoco do governo federal na relação com o Congresso não é uma realidade na maioria dos estados quando se verifica a equação de forças entre governadores e Assembleias. O governador do Paraná, Ratinho Junior, acaba de aprovar um projeto que terceiriza a gestão de escolas públicas, mesmo sob protestos e quebradeira no parlamento. A confusão armada por sindicalistas não impediu o apoio da maioria dos deputados.
Em São Paulo e no Rio, os governadores Tarcísio de Freitas e Cláudio Castro tocam a vida sem sustos. Seus projetos tramitam sem aperreios e, em grande parte dos casos, passam com igual facilidade. Não há diferença partidária quando se trata de adesão ao governo. A regra vale para Geraldo Júlio, o petista governador da Bahia, e para Eduardo Leite, o tucano do Rio Grande do Sul. Ambos formaram bases sólidas e amplas.
Duas exceções no mapa governista são o mineiro Romeu Zema e a pernambucana Raquel Lyra. A dupla de governadores não conseguiu emplacar um aliado na presidência da Assembleia na eleição do ano passado. Com isso, vez por outra, a atuação dos parlamentares tem criado entraves em votações. Os interesses eleitorais e o apetite por verbas de emendas se misturam a vetos e a obstruções de projetos.
Em Alagoas, confirmando o histórico que atravessa décadas, o governador Paulo Dantas não tem do que reclamar. Salvo alguma imprecisão de última hora em minhas contas, dos 27 deputados, 14 são filiados ao MDB, o mesmo partido do chefe do Executivo. O PT tem um parlamentar. Na oposição, ao menos no papel, são 4 do Progressistas, 3 do União Brasil, 2 do Republicanos e 1 do bolsonarista PL. Nada que ameace a base.
Todo esse governismo está longe do perfil que se vê no Congresso mais reacionário da história brasileira. Nanico em Alagoas, o PL tem a maior bancada na Câmara, com 95 deputados. Aliados a essa turma de golpistas estão outros blocos liderados por nomes como Arthur Lira, o presidente da Casa. Como se nota, predominam a chantagem e a oposição sistemática ao governo Lula. As últimas votações confirmam esse quadro.
Ao menos na esfera federal, o país vive hoje um parlamentarismo sem primeiro-ministro. O Legislativo quer mandar – mas sem assumir responsabilidades decorrentes dessa situação. A voracidade sobre a grana do Orçamento e a fidelidade a Bolsonaro ditam a postura de uma bancada acanalhada. Com a extrema direita latindo suas ideias de retrocesso e sabotagem, o governo encara uma guerra suja sem precedentes. Difícil.