José Luiz Datena se filiou ao PDSB em abril passado sob a expectativa de ser candidato a prefeito de São Paulo. É o 11º partido do apresentador, e a enésima vez que ele anuncia uma candidatura majoritária. A estatística seria o suficiente para ninguém levar a sério a palavra do dublê de jornalista. Mas estamos no mundo da política. As credenciais do pretenso gestor público, é claro, se resumem à fama decorrente da exposição na TV.

Celebridade tem voto, acredita o senso comum. Impossível lembrar aqui todos os que se valeram dessa condição para fazer carreira no parlamento. Mais difícil é encontrar eleitos para o Poder Executivo. João Doria pode ser visto como uma exceção, eleito prefeito e governador após ficar conhecido com um reality show. No comando do Brasil Urgente, na Band, Datena desistiu nas vezes anteriores após vislumbrar o fracasso.

No âmbito nacional, a maior estrela da televisão a sonhar com a Presidência foi nada menos que Silvio Santos, lá em 1989. Aquela eleição teve de tudo. Era a primeira votação direta para presidente após a ditadura militar. Parece brincadeira, mas 22 nomes se apresentaram como candidatos. Em cima da hora, setores da elite que não queriam nem Collor nem Lula inventaram a presepada de apostar no dono do SBT.

A candidatura foi barrada pela Justiça Eleitoral – como tinha de ser – por infringir os prazos para regularização. De lá até hoje, não pintou mais nenhuma celebridade na disputa pelo Planalto. Regionalmente, Celso Russomano virou folclore ao aparecer como favorito em três eleições à prefeitura de São Paulo – e derreter durante as campanhas. Afamado desde o histórico Aqui Agora, do SBT, segue como deputado federal.

Em Alagoas, quem se valeu do ibope na TV foi Cícero Almeida, eleito e reeleito prefeito de Maceió em 2004 e 2008. Sucessor de Almeida em programas da TV Alagoas (hoje TV Ponta Verde), Cristiano Mateus foi deputado federal e prefeito de Marechal Deodoro. Apresentador na TV Pajuçara, o falecido Jeferson Morais se elegeu deputado estadual e tentou a prefeitura da capital em 2012, mas teve votação inexpressiva.

Outros dois nomes que migraram das telas para a política foram Oscar de Melo e Wilson Junior, eleitos vereadores, mas hoje fora da política. Wilson se reinventou e atualmente segura a onda no Fique Alerta, fazendo bom jornalismo na TV Pajuçara. Lá atrás, Sabino Romariz foi o deputado estadual mais votado em 1986. Ele fez sucesso no rádio e no programa A Vez do Povo na TV. Perdeu ao disputar a prefeitura. Morreu em 2005.

No império das redes sociais ainda não tivemos um fenômeno eleitoral correspondente aos milhões de fãs que seguem os influenciadores. O desqualificado Pablo Marçal se assanha em São Paulo. Será perfeitamente natural que algo dessa natureza triunfe nas urnas – até para governar o Brasil. Que tal estes presidenciáveis: Whindersson Nunes, Felipe Neto, Carlinhos Maia, Virgínia Fonseca, Bloguerinha, Bianca Andrade...

Parece distopia? Não, se você levar em conta que essas biografias ditam comportamento, são referências para CEOs do mundo corporativo e fazem girar a roda da fortuna. No topo eles já chegaram. Daí para a farra de governar o país, basta aprimorar o grotesco. Olhe para a “evolução” da política e confira: é logo ali.