Às vezes, o extraordinário está na cara, mas, como se fosse a coisa mais corriqueira da natureza, vai passando batido. Até que alguém apareça com um alerta em nome da lógica. Alto lá! E aí, o que parecia tão natural, como o vento e as pedras, é exposto em sua real dimensão. Foi o que fez o jornalista Voney Malta em seu blog aqui no CM ao tratar de eleições. Mais precisamente, ao tratar de Rodrigo Cunha, o quase vice.
Um senador no pleno exercício do mandato como candidato a vice-prefeito?! Isso não tem sentido – e não tem precedente na história nacional, segundo apurou o jornalista. De fato, ao topar uma parada como essa, o político anda para trás. Como o leitor não aguenta mais ouvir, Cunha negocia a vaga de candidato a vice de João Henrique Caldas, que tenta a reeleição na prefeitura de Maceió. O que move o senador de Arapiraca?
Como diz meu antigo colega de redação na TV Gazeta, se fosse para ser candidato a vice-presidente, aí tudo bem. Para ser vice-governador, vá lá. Mas vice-prefeito? Como o Voney escreveu, não é uma escolha aceitável. Tudo bem, você já ouviu milhares de vezes que o senador sonha em herdar a cadeira de prefeito em 2026, quando JHC sairia candidato a governador. É aposta no escuro, troca arriscada por um futuro incerto.
Aí aparece outro dado também levantado pelo blogueiro. O mandato de Rodrigo Cunha acaba daqui a dois anos. Mesmo com duas cadeiras em disputa (a outra é de Renan Calheiros), Cunha está pessimista quanto às chances de êxito. Sua atuação no Senado está na categoria da plenitude da irrelevância. Como legislador, é inexpressivo. Como homem público, teve a “valentia” de apoiar Bolsonaro, o facínora aliado de milícias.
Vamos falar de modo claro. O currículo do rapaz nos últimos anos é um desastre. Uma tentativa de atrair holofotes foi a CPI da Braskem. Na bancada da comissão agiu para blindar seu aliado, o prefeito que levou 1,7 bilhão de reais num acordão com a mineradora. Dias atrás, movido por demandas paroquiais, chegou a tumultuar no Senado um projeto de interesse do país. Saiu do episódio com a reputação esmagada.
Pelo conjunto da obra, fica sendo natural o que natural nunca seria: o rebaixamento da condição de senador a candidato a vice de JHC. Para piorar, o prefeito expõe o aliado ao constrangimento – eu ia escrever à humilhação – ao esticar o prazo para decidir. Não é aceitável, mas o senador aceitou. E ainda espera por ordens superiores.