Faz um tempo abissal que não vejo Quitéria.

Era muito agradável dar uma pausa na caminhada e ficar ali, um instantezinho, jogando conversa fora, sabendo dos fatos do entorno, a partir das narrativas  de vida da preta.

Natural de Murici, município alagoano,  o sonho de Quitéria é ter uma casinha para viver ‘eu-comigo’- dizia ela.. Sempre contava uma história nebulosa de ter saído de casa, no interior do estado,  por motivos tanto, apesar do tom bruto da vida, Quitéria, ainda, sorria.

É uma pessoa alegre e uma boa conversadeira

Faz mais de 10 anos, que vive  como moradora em situação de rua, sobrevivendo à poesia crua das noites gélidas, sem cobertor, gentes ou afetos.

Quando o temporal cai impávido , lembro de Quitéria, e me pergunto como ela está, onde se abriga  e das complexas vulnerabilidades,  que nós, as mulheres negras ( em sua maioria) estão expostas.

Quitéria é negra, idosa,(faz aniversário na véspera do Natal), moradora de rua e invisível socialmente.

Faz tempo que não vejo Quitéria.

Espero que esteja bem.