A combinação familiar é prática corriqueira nas eleições no interior de Alagoas, longe dos holofotes centralizados na capital. Prefeito de Maceió, João Henrique Caldas é legítimo representante desse jeito de fazer política. Seu profundo conhecimento sobre o tema foi adquirido dentro de casa. Os Caldas emplacaram gerações no comando de Ibateguara, a modesta cidade que deu poder e prosperidade a seus filhos ilustres.
Até onde vai a memória, com ajuda de uma superficial pesquisa, nunca houve uma eleição para prefeito de Maceió no meio de negociações familiares. Não em um nível como agora. A tradição está prestes a virar. Pela primeira vez na história da capital os laços de sangue podem ser decisivos para a formação de uma chapa majoritária. É o que veremos caso as prospecções do grupo de JHC avancem na direção mais cogitada.
A operação é simples e direta, sem nuances de requintes republicanos. Pelo desenho, o jovem JHC terá como vice o também jovem senador Rodrigo Cunha. Eudócia Caldas, mãe do prefeito em busca da reeleição e suplente de Cunha no Senado, ganha quatro anos de mandato – caso dê tudo certo nas urnas. E dando certo, o filho dos Caldas deixa a prefeitura em 2026 para disputar o governo. Selando a jogada, Cunha vira prefeito.
Uma informação inesperada agitou as especulações. No meio da costura se falou em outro parente como possível vice de JHC. Seria a procuradora de Justiça Marluce Caldas, irmã de João Caldas (o patriarca) e tia do herdeiro JHC. Como se nota, o brasão pulsa forte. Quem descobriu a subtrama no enredo político foi o atento e bem-informado jornalista Marcos Rodrigues, que contou tudo nas páginas da Gazeta e da Gazetaweb.
Apesar do impacto, o fator Marluce Caldas, ao que parece, ficou à beira do caminho. As maquinações familiares seguem sem definição. No centro do tabuleiro está o todo-poderoso Arthur Lira, dando ordens ao senador e ao prefeito. Desconcertante – mas sem surpresa – é que algo tão antigo envolva a dupla Cunha-JHC, dois autoproclamados renovadores da política. Maceió periga inaugurar uma velhíssima tradição.