A defesa de escolas cívico-militares é mais um item na cesta básica da ultradireita. Os apoiadores listam a disciplina, a obediência cega aos superiores e a veneração aos símbolos da pátria como qualidades do modelo. Aprendizado, troca de experiências e liberdade não estão entre os argumentos. A linha dura desses ambientes está de olho em tatuagens, piercings, brincos, cortes de cabelo e maquiagem. Tudo proibido.
O projeto de militarização nas escolas da garotada foi adotado no governo daquele militar expulso do Exército. No ano passado, o governo Lula publicou decreto que anulou o Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares. Entre centenas de razões para isso, estavam os custos. Bolsonaro usou o projeto para distribuir cargos e dar dinheiro aos fardados – algo disseminado em todos os órgãos a partir de 2019. Mais uma boquinha.
O Ministério da Educação retirou verba federal dessa aventura. Como os estados têm autonomia, podem tocar a presepada – com as despesas por conta própria. Por interesses meramente politiqueiros, governadores bolsonaristas, é claro, anunciaram que iriam bancar os custos. Um dos primeiros a oficializar o troço foi o Paraná, do estadista Ratinho Junior. São Paulo, do moderado exterminador Tarcísio de Freitas, está nessa.
Prefeituras Brasil afora estão gastando dinheiro para tocar a ideia. Para os crentes que exaltam a correção dos patriotas, recomenda-se a leitura de reportagem no portal Metrópoles. Um capitão reformado do Exército foi rápido no gatilho e criou a Associação Brasileira de Educação Cívico-Militar (Abemil), sediada em Brasília. Davi Lima Sousa, fundador e presidente da entidade, é um lobista suplente de deputado pelo PL.
De prefeitura em prefeitura, o negócio do capitão já lhe rendeu 11 milhões de reais dos cofres públicos. Ele faz lobby junto a políticos, vende o projeto e fecha contratos sem licitação. O idealismo cívico de farda, além de falácia intelectual, é também uma negociata contra o erário. O mundo é previsível não importa o que aconteça.
No governo do agora inelegível foram criadas três escolas desse tipo em Alagoas. Uma em Maceió, uma em Rio Largo e outra em Maragogi. Não sei o rumo que seguiram após o decreto na gestão Lula. Tomara que tenham voltado a uma rotina sadia, com lisura na aplicação dos recursos e longe de ideias que pregam o obscurantismo.
No Paraná, uma das regras é a proibição de namoro entre estudantes! Batendo continência para a hipocrisia. O autoritarismo avacalha a vida em todas as dimensões.