Dinossauros do jornalismo que se prezem não têm o direito de se espantar com qualquer tolice. Isso não significa indiferença aos acontecimentos do mundo ao redor. Por isso ainda é intrigante quando escuto alguém afirmar que tem nas redes sociais sua principal fonte de informação. E, segundo sabemos da geração Z e outros grupos, isso é tão natural quanto andar para frente e respirar. Porque as coisas mudaram para sempre.
Nova pesquisa Datafolha publicada neste domingo trata do tema. Segundo a reportagem, paulistanos confiam mais na “mídia profissional” do que nas redes. Até um dia desses, o enunciado pareceria uma doideira de redator avoado. Ora, é claro que seres pensantes e alfabetizados não poderiam responder tal questão de outra maneira. O fato, portanto, de se fazer a pergunta sobre a preferência atesta essa mudança radical.
Bom, pelo menos por enquanto, segundo o Datafolha, a maioria ainda confia mais nos profissionais do ramo do que no aloprado universo das redes interativas. Numericamente, os jornais impressos lideram o ranking de confiança – o que já é uma extravagância. Logo depois vêm programas de rádio e de TV. E em quarto lugar finalmente aparece a rede mais confiável, o X, antigo Twitter do celerado Elon Musk.
A pesquisa traz indicadores mais detalhados, é claro. Fiz o resumo suficiente para especular sobre o resultado principal. No caso dos jornais, 38% dizem não confiar no que é publicado. O mesmo índice de descrédito para a TV. Outro dado exótico é o percentual de entrevistados que apontam o WhatsApp como meio de obter notícias. 40% dos eleitores dizem se informar sobre política e eleições no aplicativo de conversas.
Imagino o grau de prioridade que o eleitor dá ao conteúdo de seu WhatsApp entre uma novidade sobre um candidato e o vai e vem de nudes e outras trocas intelectuais. Como sempre ocorre em qualquer pesquisa, não há como aferir a consistência da ligação entre as respostas a um questionário e a vida real. Verdade e ficção, é certo, aqui se misturam.
Mesmo com esse mistério insondável, os percentuais verificados no levantamento mostram uma dura concorrência entre imprensa profissional e as redes. Se depender dos rapazes bilionários do metaverso – os plutocratas digitais –, logo o jornalismo fica para trás. Para alegria de gente que vê no fanatismo tecnológico a plenitude da existência.
Até lá, enquanto for possível, sigamos navegando em portais como este CADA MINUTO. E até em páginas de papel à venda em estranhos lugares conhecidos como bancas de revista. Em breve, na distopia que tantos esperam, isto será um ato de rebeldia.