Os reflexos de um possível rompimento político entre o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL), e o deputado federal e presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas), alteram significativamente os rumos desta eleição?
Eis uma pergunta que deve estar na cabeça do próprio prefeito e de muitos de seus aliados neste momento. Todavia, a resposta não é tão simples.
Na cabeça de Arthur Lira não deve haver dilema, mas uma decisão pragmática entre indicar o vice ou lançar uma chapa para o Executivo contra JHC. De pragmatismo, Arthur Lira entende. Não por acaso ocupa a posição que hoje ocupa, mesmo diante do presidente ser Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT).
Evidentemente, JHC deve avaliar a situação do alto de seus mais recentes números conquistados – a boa aprovação popular e a liderança absoluta nas pesquisas de intenção de votos – que lhe garante uma posição confortável na disputa eleitoral deste ano, pois – com ou sem Arthur Lira – ele segue o favorito, uma vez que a oposição do MDB não decolou, e o pré-candidato a prefeito e deputado federal Rafael Brito (MDB) não alcançou sequer dois dígitos percentuais nos mais recentes lançamentos.
Os maiores adversários de JHC, neste momento, são os erros que possa cometer em sua própria gestão, ao ponto de atrair para si um grande desgaste (no caso, o pouco tempo até as eleições é um aliado do prefeito), ou a soberba (que é uma péssima conselheira).
Não que a gestão de JHC não tenha erros. Claro que tem. Todas possuem. Mas o marketing de JHC funciona bem; isto é inegável.
O prefeito, entretanto, deve ter muito cuidado com a soberba caso pense em futuro político para além do tempo que passará no Executivo municipal (sejam quatro ou oito anos).
Na política alagoana, são muitos os exemplos de políticos que alcançaram o topo e depois viram chegar a derrocada e o ostracismo. Quantos não viram o cavalo passar selado? Dentre eles, por exemplo, o ex-prefeito de Maceió, Cícero Almeida.
A aliança entre Lira e JHC é circunstancial e fisiológica. Ora, tais alianças dependem da conjugação de interesses e divisão de nacos de poder. O prefeito de Maceió – evidentemente – não quer compartilhar poder ao ponto de não ter, ao seu lado, na condição de “vice”, um nome de extrema confiança.
Em caso de reeleição, JHC pode concorrer ao governo estadual e, com isso deixaria a Prefeitura de Maceió não mão de um “vice”. JHC quer um nome que o apoie e por isso busca o “vice” em sua “cozinha”.
Lira vislumbra a possibilidade de candidatura de JHC ao governo. Por essa razão, o vice é peça fundamental, pois seriam dois anos com um aliado no Executivo municipal da capital alagoana, dando suporte a uma candidatura de Lira ao Senado Federal, dentro de um contexto onde o maestro da orquestra é o próprio Arthur Lira e não mais JHC.
A “aliança circunstancial” encontrou sua encruzilhada
As mais recentes falas do ex-deputado estadual Davi Davino Filho (Progressistas) – que já deixou a posição de secretário municipal na gestão de JHC – mirando em uma pré-candidatura à Prefeitura de Maceió não surgem por acaso. Ainda que Davi Davino Filho diga – aos quatro cantos – que a sua posição é pessoal e não corresponde ao que pensa o Progressistas, é evidente que ele não iria aos holofotes desta forma sem o consentimento de Lira.
Assim, Davi Davino Filho cobra publicamente uma posição definitiva de JHC ao passo que afasta Arthur Lira de um desgaste. Não por acaso, as declarações de Davi Davino também se assemelham a do deputado federal Alfredo Gaspar de Mendonça (União Brasil), quando diz que “não apoiará JHC a qualquer custo” e reforça a negociação a respeito da “vice-candidatura”. União Brasil e Progressistas são partidos que marcham junto. Logo, os discursos não são meras coincidências.
A “linguagem” dentro do Progressistas e do União Brasil é unânime e sob a batuta de Arthur Lira, que basicamente manda o recado para JHC: “E aí, vai decidir, ou a gente racha?”. Se rachar, Lira coloca em cena uma nova chapa: Davi Davino candidato à Prefeitura de Maceió, tendo ao lado Carlos Mendonça (filho de Gaspar de Mendonça) como vice.
Lira constrói uma chapa que mira diretamente em uma significativa parcela do eleitorado de JHC, que é oriundo da direita e anti-calheirista, o que justamente o MDB e seus partidos aliados não possuem como construir. Portanto, uma possível oposição de um possível ex-aliado Lira – neste momento – é muito mais incômoda do que o “bloco palaciano de Renan Calheiros (MDB)” fragmentando em trocentas pré-candidaturas, incluindo a posição timoneira de Rafael Brito.
Se o estrago causado por Lira é o suficiente para mudar os rumos da eleição de agora? Salvo um fato novo, é muito provável que faça JHC “sangrar”, mas não altera o fato dele (JHC) ser o favorito. Portanto, pensando somente no agora, o prefeito João Henrique Caldas pode até bancar escolher o vice e deixar Arthur Lira montar mais uma via para disputar o Executivo da capital.
Mas e o depois? Ninguém é candidato de si mesmo. Se JHC quiser ser o eterno bloco do eu-sozinho, fundando a filosofia do “caldismo” em oposição ao “calheirismo” pode sair perdendo no longo prazo. Afinal, os planos de Arthur Lira não envolvem apenas a eleição de amanhã, mas as vindouras…