A festança particular da OAB com dinheiro público sacode as redes sociais e agita escritórios de operadores do direito. O episódio também mobiliza uma tropa de peso na proteção da entidade. O problema nesse caso é como defender o indefensável. É uma missão ingrata. Clareza e precisão de dados são variáveis obrigatórias aqui na classificação do que aconteceu. E vamos combinar que a coisa toda foi um escárnio.
Não há mistério nem camadas de complexidade para se entender o que se passou no último dia 24. Cinco mil pessoas, a maioria advogados, caíram no forró num evento batizado de São João 2024-OAB, celebrado com o slogan “é arretado de bom!”. Para realizar seu convescote forrozeiro, a entidade não pagou nada. Segundo o presidente da Ordem, Vagner Paes, tudo saiu “com 100% de patrocínio”. Ele comemora o feito.
A confusão instalada tem a ver com um dos patrocinadores. A prefeitura de Maceió destinou 280 mil reais para uma categoria profissional de elite viabilizar sua farra junina. Um cantor de forró e duas cantoras se revezaram no palco. Uma das vozes que animou o público foi Millane Hora, namorada do senador Rodrigo Cunha, um dos principais aliados políticos do prefeito João Henrique Caldas. O cachê não foi revelado.
Se você ainda não entendeu: dinheiro público para fins privados. Precisa desenhar para alguém com dificuldade de interpretação de texto? Não bastasse isso, o evento serviu para exaltar JHC, citado várias vezes no palco. O senador Cunha negocia a vaga de vice na chapa com o prefeito nas eleições deste ano. O conjunto da obra beira o escândalo.
Os amigos da Ordem alegam, repare só, que o evento é parte do investimento oficial nas tradições da cultura popular. A versão fantasiosa é combinada com a prefeitura. Não façam isso, rapazes. Essa linha de defesa é um vexame. A outra é fazer da direção da OAB vítima de terrível trama de poder. Que canseira! Sobre os fatos, ninguém fala.
A OAB tem vocação para controvérsia. No caso Braskem, tentou impedir a atuação de defensores públicos em ações movidas por vítimas da calamidade. A motivação era garantir os honorários da advocacia privada. Escrevi sobre essa infâmia na época.
Quando lhe convém, a OAB é ligeira para apontar desvios de conduta de agentes públicos. Se não convém, olha para o outro lado. A entidade demonstra agora, mais uma vez, pouco apreço pela justeza ética em seu próprio comportamento.