Uma dessas notícias que provocam indignação generalizada. Uma criança de quatro anos de idade morta pelo próprio pai. O caso registrado em Maceió foi rapidamente esclarecido pela Polícia Civil. O menino começou a passar mal logo após chegar para mais um dia de aula numa escola da rede municipal. Levado às pressas para uma unidade de saúde, ele não resistiu. 48 horas depois, a investigação apontou o assassino.
Imagens de uma câmera na escola mostram o acusado descartando o que seria o recipiente de um veneno que ele usou para tirar a vida do filho. As imagens, claro, ajudaram na elucidação do crime. O assassino confessou. Diante da comoção, o prefeito e influencer João Henrique Caldas correu para seu lugar favorito, o Instagram. Dizendo-se triste com o episódio, exibiu solidariedade à família. Mas JHC disse algo mais.
“Essas são imagens do nosso sistema de videomonitoramento da creche onde estudava o menino Anthony”, informa o prefeito. Na sequência, ele fala do homem preso e, como quem não quer nada, chama atenção para um detalhe: “Sem o sistema de videomonitoramento das creches, dificilmente poderia se chegar a ele tão rapidamente. Peço que as investigações continuem sendo conduzidas com rigor”.
Jesus de Belém! O prefeito de Maceió se vale de uma tragédia para se promover. Está claro que isso é autopropaganda. Sem a maravilha da máquina municipal, “dificilmente” as coisas andariam no rumo certo. Em vez de reconhecer o trabalho da polícia, JHC vem com uma conversa descabida. Ele “pede” que as apurações prossigam com o devido “rigor”. Um papo furado que chega a ser ofensivo ao trabalho policial.
Não, o prefeito de Maceió não inventou esse estilo. É mais um na multidão de figuras públicas querendo “lacrar” a qualquer custo. Nem a tragédia contém o desmazelo moral. No vale-tudo em busca de vantagens políticas, respeito e sobriedade – ao menos em certas ocasiões – não “agregam seguidores”. Até pouco antes de publicar este texto, vi que a postagem do senhor Caldas no Instagram tinha 30 mil “curtidas”. E contando.
É isso aí. Tudo é oportunidade. Parece que a morte também é um forte cabo eleitoral.