Visando defender e representar as minorias, especialmente as pessoas trans, na Câmara Municipal de Maceió, a professora de dança Camille Costa, mulher trans de 39 anos, anunciou a sua pré-candidatura a vereadora por Maceió, pelo Solidariedade.

Em entrevista exclusiva ao CadaMinuto, na tarde desta terça-feira (28), ela falou sobre sua história de vida e seus objetivos, caso seja eleita.

“Tem algumas questões que trago desde a infância e não vejo uma solução presente na realidade ainda, mas estou disposta a tentar mudar as coisas. Eu vi, enquanto professora, que a gente pode mudar ideias, mudar conceitos através da arte, da cultura, da educação”, disse.

Uma das bandeiras que a pré-candidata defende é o direito das pessoas trans. Ela busca trabalhar contra os preconceitos e pela empregabilidade desse grupo social.

“Eu gostaria muito de amparar as pessoas trans para que elas possam chegar onde eu cheguei, ou ir até mais além. A gente vê que o preconceito é muito grande, principalmente quanto à aparência. Tive um emprego no qual a pessoa não aceitava que eu era trans. E muitas meninas que eu conheço também encontram essa impossibilidade. Mas eu vejo que, com o conhecimento, com a educação, você consegue, sim, quebrar esses paradigmas e mudar a situação, porém, nem todo mundo consegue devido ao preconceito, do bullying.”, destacou.

Camille tem uma longa experiência com a educação de jovens, trabalhando por cerca de 10 anos em uma ONG educacional, em Santana do Ipanema, no sertão de Alagoas.

“Eu fiz o trabalho na ONG por dez anos, no qual a gente pegou crianças muito traumatizadas. E elas tinham um ideal de realidade que era muito triste, e com o passar das aulas, eu vi a transformação nelas”, prosseguiu ela.

 

Paixão contida

Camille, que é natural do município de Arapiraca, também conversou com a reportagem sobre sua própria vivência, segundo ela, repleta de desafios.

 “A escola é um lugar no qual eu sofri muito bullying, quanto à minha feminilidade. E, por vezes, eu tinha medo até de sair da sala de aula para tomar um copo com água e ir ao banheiro. Eu vejo muito, não só no meu caso, mas no caso de muitas meninas, que isso ainda acontece. Muitas meninas estão na fase de transição e têm que mudar de escola ou querem abandonar os estudos porque não aguentam. Essas questões foram me transformando e transformando meu pensamento crítico. O que eu vou fazer daqui para frente? Será que eu tenho que desistir? Eu gostaria de desistir, mas eu não posso desistir de mim”.

A professora conta que começou a despertar para a vida política, ainda no ensino médio, quando veio de Arapiraca para Maceió, estudar no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), mas devido à discriminação, sempre teve essa paixão contida.

“Eu saí de Arapiraca, para estudar no IFAL, de Maceió e, vendo o DCE (Diretório Central dos Estudantes), morria de vontade de atuar enquanto ser social e político. Só que eu não conseguia fazer isso porque me deparava mais uma vez com o bullying. A galera do handebol sempre estava lá atormentando a minha vida. E aí eu me afastava de novo dessa situação de querer transformar, pensar e reagir”, completou.

A pré-candidata pelo Partido Solidariedade deixou uma mensagem para todas as pessoas que sofrem algum tipo de preconceito, encorajando-as a nunca desistirem:

“Jamais desistam, porque somos muito mais do que os obstáculos. Precisamos realmente vencer. E se não desistirmos, podemos ser quem somos realmente. Não só se ajudar, mas ajudar outras pessoas também. Porque a gente não sabe, mas também podemos estar inspirando alguém a crescer e a se desenvolver, apenas estendendo a mão”, finalizou.


*Estagiários sob supervisão da editoria.