A Bahia é palco de uma trama que envolve uma emissora de televisão e profissionais da imprensa daquele estado. Os fatos revelados por investigação policial apontam para um esquema chefiado por dois profissionais que trabalhavam na Record TV Itapoan. O caso que agora veio ao grande público ficou conhecido como Escândalo do Pix. Dois jornalistas são acusados de desviar dinheiro arrecadado para campanhas de caridade.
O cabeça do negócio é Marcelo Castro, esse galã que aparece na foto acima. Ele era repórter do Balanço Geral, notório programa cuja marca principal é o sensacionalismo em estado bruto. Seu parceiro era nada menos que o editor-chefe do telejornal, o também caridoso Jamerson Oliveira. A dupla foi demitida após o fim das investigações. Ao todo, 12 pessoas foram indiciadas no inquérito que apurou a fraude televisiva.
O troço é de uma simplicidade rudimentar. Famílias pobres pediam ajuda ao Balanço Geral para conseguir remédios que seriam usados no tratamento de crianças com doenças graves. Engajados na “prestação de serviço à sociedade”, esses craques do jornalismo criavam campanhas para arrecadar o valor necessário. No ar exibiam um número de telefone para doações via pix. Com forte audiência, a grana caía fácil.
Mas, que surpresa, nenhum tostão chegava às vítimas. Ou melhor, alguns trocados chegavam – para enganar pessoas em desespero. Em um ano, segundo a polícia, as contas bancárias dos dois franciscanos da Record movimentaram 3,4 milhões de reais. Preto no branco, eles se apropriaram de mais de 500 mil reais doados pela população. O Ministério Público pediu mais diligências antes de decidir se denuncia os acusados.
Fui dar uma olhada na gloriosa imprensa baiana. Marcelo Castro, demitido da Record, foi contratado pela TV Aratu, afiliada do SBT. O cara está no ar concorrendo com seu antigo programa. As provas contra o rapaz somam um calhamaço. Ele e seu parceiro foram indiciados pelos crimes de estelionato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Se condenados, podem pegar de 8 a 21 anos de prisão. Mas, para o SBT, tá de boa.
Como se fala no Rio Vermelho, quanto mais se mexe no assunto, mais detalhes sórdidos aparecem. Foram ao menos 11 casos fajutos de pix solidário. Uma criança que esperava pelos remédios morreu. Algumas mães disseram que eram incentivadas a ensaiar as declarações para a TV. Para ficar mais dramático. É o jornalismo verdade.
Além da ajuda ao povo, o ponto forte no jornalismo de Marcelo Castro é aquele que atua como linha auxiliar da banda podre da polícia – um velho padrão na imprensa. Ele sempre chega primeiro na cena do crime. No ano passado, enquanto tudo isso abalava as ladeiras do Pelourinho, ele e a noiva passeavam pelos Emirados Árabes.
Só falta o casal aparecer no Chega Mais, programa das manhãs no SBT, e contar uma comovente história de injustiça e superação diante de Michelle Barros e Regina Volpato.