As quadrilhas que agem para lucrar com a tragédia no Rio Grande do Sul não têm ideologia. Parece um despropósito ressaltar um aspecto como esse ao tratar das enchentes que devastam uma região do país. Em condições normais e em tempos de razão, de fato, não faria sentido. Mas e quem disse que os dias estão em ritmo de normalidade? Para piorar, jamais voltaremos a uma rotina livre da bagaceira política.
Por isso a notícia de Luciano Hang no meio de um esquema para ganhar dinheiro com a miséria alheia tem uma carga de ironia que não passa batido. Ele é vítima! Para que não paire dúvida, o notório Veio da Havan não está roubando dinheiro de ninguém. Atenção, pessoal, ele é inocente no caso de golpistas que fraudam campanhas de doações para o Sul. Os bandidos agiram contra as empresas do homem do paletó patriota.
Hang apareceu no Fantástico contando detalhes do esquema no qual ele e sua afamada marca de loja são alvos de marginais. Com o uso de inteligência artificial, os caras forjam um vídeo de Hang fazendo uma promoção de produtos muito abaixo do preço normal. A arrecadação com as vendas, diz o Veio fake, seria toda para os desabrigados no RS. Uma multidão, sendo solidária, fez as compras pela internet – e perdeu o dinheiro.
Na gravação que incentiva os consumidores, a imagem de Hang é real, mas sua voz é falsa. Esse truque começou um dia desses, mas, de tão usado, parece já ultrapassado. Não caia nessa! No mundo virtual – que é para onde foi a vida real – estão disseminados um conjunto de golpes de todos as formas, com apelos para qualquer tipo de perfil. Com uma legião de fãs, Luciano Hang, claro, é um convite para gangs à espreita de negócios.
Em 2020, o empresário foi à CPI da Covid e fez uma defesa enfática da Cloroquina e outros produtos sem eficácia para combater a doença. Chegou a fraudar o atestado de óbito da própria mãe para negar a morte por Covid. Também foi investigado por trabalhar com outros empresários por um golpe de Jair Bolsonaro. Na eleição de 2022, ameaçou demitir seus funcionários que não votassem no genocida. Faltou pouco pra cadeia.
O empresário nega todas essas barbaridades. O certo é que estamos diante de alguém que defendeu as piores ideias durante quatro anos, sob a proteção do bolsonarismo. Foi um dos heróis da tropa que defendia avacalhar com as instituições. Escolheu o lado errado da História. Mas desta vez, que fique claro de novo: o Veio da Havan é inocente.