Grupos rivais em Alagoas trocam acusações sobre tudo e mais alguma coisa. Da incompetência administrativa à assinatura de contratos suspeitos, o inimigo será sempre o pior exemplo na vida pública. Mas ninguém acusa ninguém de fazer da política um negócio de família, de pai para filho, estendendo o sobrenome numa fileira de mandatos a cruzar décadas e gerações. Porque este – ontem, hoje e amanhã – é o projeto de todos.

Logo, não vamos aqui condenar o deputado Arthur Lira por apresentar ao Brasil seus dois herdeiros nesta tradição. São as alternativas para dar sequência à história milenar de sua família no exercício de poder. São eles Álvaro Lira, de 18 anos, e Arthur Lira Filho, 24 anos (o que aparece na foto acima). A revelação das intenções do pai dos jovens está em reportagem da revista Veja. O avô Benedito, como se sabe, segue na ativa.

Collor de Mello, Calheiros, Cavalcante, Albuquerque, Beltrão, Tenório, Gonçalves, Novaes, Toledo, Pereira, Bulhões, Dantas, Moura, Holanda, Caldas, Barros, Palmeira... Mais um pouco e acabaria num poema concreto com aliterações e antilírica. Curioso: não sei se a lista tem algum potencial para chatear os citados ou os ausentes. Reitero que o objetivo aqui não é decretar juízo de valor sobre nenhuma dessas dinastias.

Primeiro porque há vasta literatura sobre o Brasil das oligarquias, do coronelismo e das capitanias hereditárias. O leitor interessado encontra com facilidade uma fortuna crítica acerca desses temas. Basta querer. Segundo porque seria chover no molhado, como este clichê que você acaba de ler. Então o que é mesmo que se pode pensar sobre esse mito de origem brasileiro a partir da informação com os filhos de Arthur Lira?

É o que estou procurando agora à medida que o texto vai saindo. Todos os sobrenomes listados dois parágrafos acima estão em plena atividade, cada um com seu tamanho e raio de alcance. Além deles, há outros com cargos e mandatos nas esferas municipal e estadual. E há famílias que já botaram pra quebrar em Alagoas, mas hoje estão apenas nos livros. É o caso dos Góis Monteiro, Omena, Torres, Duarte, Lins, Vieira e mais alguns.

Definitivamente não é uma marca só alagoana. O parentesco é traço vistoso nos quatro cantos da formação nacional. Sarney, Barbalho, Arraes, Cunha Lima, Maia, Alves etc. estão aí de prova. E não bastasse tudo isso, o país caiu nas mãos dos Bolsonaro – que está mais para milícia dos tempos contemporâneos. Outros modos de ação.

É bom ressaltar que o apanhado de famílias aqui trata daquelas que fizeram da política uma razão de viver. Existem as que chegaram ao poder no empresariado e mesmo no mercado das ideias. A esta altura é possível acreditar que um dia deixaremos para trás a República dos Brasões? Ou será destino, fatalismo e maldição? Muita coisa pra pensar.