No mês em que se comemora o Dia Mundial Sem Tabaco, 31 de maio, o CadaMinuto conversou com o pneumologista Aldo Agra sobre as principais “polêmicas” atuais envolvendo o assunto, a exemplo da tramitação do Projeto de Lei 5008/2023, de autoria da senadora Soraya Thronicke, para regulamentar a comercialização de cigarros eletrônicos, conhecidos também como “vapes”, no Brasil.

Sobre isso, o médico alerta para a ligação da autora do PL com a indústria do tabaco, “inclusive com postagem recente em redes sociais de seu encontro com o diretor da Phillip Morris, uma importante indústria ligada ao tabaco”. 

“O projeto não me parece pensado em favor da saúde da população e está longe de ser uma boa proposta para o problema do tabaco, somente favorecendo a facilidade do consumo e alimentando uma indústria bilionária e com o histórico de enorme dano a saúde populacional sem arcar com essa responsabilidade de modo compatível. Se pensarmos somente no cigarro convencional, hoje o que se arrecada com os impostos do tabaco, não cobre 20% do que o SUS gasta tratando das doenças relacionadas ao tabaco, e simplesmente querem liberar o cigarro eletrônico sem mensurar o impacto que isso causa na saúde e no cuidado desses futuros doentes”, analisou.

O entendimento do especialista segue a linha de pensamento de 34 entidades médicas, a exemplo ACT Promoção da Saúde, Associação Alagoana de Doenças do Tórax, Associação Médica Brasileira e Associação Mundial Antitabagismo e Antialcoolismo, que assinaram uma Carta Aberta ao Senado, repudiando a proposta. 

Proibição mantida

A decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em abril, mantendo a proibição à comercialização dos cigarros eletrônicos também foi comentada pelo pneumologista: “A Anvisa é um órgão que visa proteger a população de riscos. Fica claro o posicionamento pela Anvisa que o cigarro eletrônico é um risco potencial a saúde pública e sua liberação, pensando-se prós e contras, permanece com um risco muito superior ao benefício da liberação do comércio”. 

Aldo Agra lembra que o atual consumidor de cigarro eletrônico é uma população jovem e um número considerável que nunca teve contato com o cigarro convencional e que tem contato com o tabagismo e a dependência pelo cigarro eletrônico, “portanto não há beneficio, em um país com história tão promissora de combate ao tabagismo, recrutar novos usuários de nicotina dessa maneira. Já quando falamos de combate a comercialização isso é papel da policia federal que tem papel importante no combate ao contrabando e que, apoiada na manutenção da proibição da comercialização, deve intensificar as políticas de combate a venda, seja presencial ou online”.  

O especialista pontuou ainda sobre um novo estudo  realizado pela Universidade de Nova York apontando que os cigarros eletrônicos podem, assim como o tabaco comum, causar câncer de pulmão. 

Questionado sobre o que esse resultado significa em relação à luta contra o tabaco em todo o mundo, Aldo destacou que o cigarro eletrônico tem um tempo de comercialização no mundo muito curto e ainda estamos conhecendo todos os malefícios que estão associados ao seu uso. 

“Apesar de a indústria tabageira propagar que o cigarro eletrônico seria uma forma segura do consumo do tabaco, o que os estudos estão apontando, assim como este estudo, é que o cigarro eletrônico não é seguro e está cada dia mais associado a ser causador de doenças, seja essa associação com maior risco de câncer de pulmão, como com pior controle da asma, e principalmente com a alta dependência que essa forma de fumar está associada”, frisou.

Saúde pública

Para quem quer parar de fumar, o médico orienta que, em relação ao cigarro convencional, há medicamentos para auxiliar no tratamento do dependente a nicotina, como a bupropiona e o uso de adesivos e goma de nicotina, mas alerta que não há nenhum trabalho que mostre a correta maneira de tratar os dependentes do cigarro eletrônico, pois isso ainda não foi devidamente estudado.

“Acabamos na nossa prática usando essas mesmas medicações. Antes era raro aparecer paciente com esse perfil, mas hoje está cada vez mais frequentes eles aparecerem no consultório relatando a dificuldade de largar o cigarro eletrônico e com o consumo de doses altíssimas de nicotina, já chegando paciente meu relatando o consumo equivalente a fumar cinco maços de cigarro ao dia, e pacientes sempre jovens. Com certeza tratar a dependência ao cigarro eletrônico será um dos desafios em saúde pública das próximas décadas”, concluiu.

Apoio

Para quem busca ajuda para parar de fumar, em Alagoas, existe um Programa Estadual de Controle do Tabagismo, que presta cooperação técnica e apoio aos municípios, para a implantação dos programas municipais. Há Núcleos de Atenção ao Fumante implantados nos municípios de Arapiraca, Coruripe, Campo Alegre, Craíbas, Jacaré dos Homens, Junqueiro, Igaci, Palmeira dos Índios, Pão de Açúcar, Pilar, Piranhas, Teotônio Vilela e Maceió (II Centro de Saúde Dr. Diógenes Jucá, localizado na Praça da Maravilha; Hospital Universitário; Unidade de Saúde João Paulo II, no Jacintinho; Núcleo de Atenção ao Fumante, na sede da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, para atendimento ao Servidor e Clínica da Família do Benedito Bentes, gerido pelo Estado.

Em entrevista ao CadaMinuto, Eunice Canuto, assistente social e coordenadora do Programa Estadual de Controle do Tabagismo, falou sobre as ações realizadas pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) durante o mês de maio.

“Através do Programa Estadual de Controle do Tabagismo, em parceria com o responsável técnico pelo Programa Saúde na Escola, a Sesau realizou uma Ação Educativa na Escola Estadual Mário Broad no dia 23 deste mês. Além disso, realizou no dia 14 deste mês o II Encontro Estadual dos Coordenadores dos Núcleos de Controle do Tabagismo. Ainda como parte das Ações do Programa Estadual de Controle do Tabagismo, os municípios estão sendo incentivados a realizarem ações alusivas ao Dia Mundial sem Tabaco”.

Em relação aos dados referentes ao número de óbitos decorrentes do tabagismo, a coordenadora explicou que não há este registro em nenhum sistema do Ministério da Saúde (MS), visto que, nas Declarações de Óbitos e Certidões de Óbitos não consta a causa mortis como tabagismo, “apesar de sabermos que as doenças crônicas cardiovasculares, cerebrovasculares, Enfisemas Pulmonares, doenças do aparelho respiratório e vários tipos de câncer, têm como fator de risco, o tabagismo”, concluiu.

Em Maceió, no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também existe um Programa Municipal de Cessação do Tabagismo. Laís Porangaba, responsável técnica pelo programa, destacou que para aqueles que querem se livrar do cigarro, a capital conta com diversos Núcleos de Tratamento e Cessação do Tabagismo, distribuídos em unidades de saúde como o II Centro de Saúde, João Paulo II, Dídimo Otto, Clínica da Família José Aprígio Vilela, Hospital Universitário e Cesmac. 

Além disso, o Serviço de Atenção à Saúde do Servidor (Sass) criou um núcleo exclusivo para servidores da saúde que desejam parar de fumar.