Como escrevi aqui no último dia 17, a CPI da Braskem não produziu uma vírgula sobre a responsabilidade de políticos na tragédia provocada pela mineradora em Maceió. Nenhum nome da categoria, com ou sem mandato, aparece no relatório final do senador Rogério Carvalho, aprovado esta semana no Senado. É claro que o principal é a indenização mais ampla possível para as vítimas que perderam tudo.

Esse aspecto, como se sabe, não restou equacionado. Por isso mesmo muitos antigos moradores tentam uma revisão de acordos fechados sob pressão da multinacional. Caso dramático é o de empresários que viram a fonte de renda sumir de uma hora para outra. E ainda existem as localidades que não foram incluídas no chamado mapa de risco, embora estejam hoje isoladas, sob as consequências da degradação urbana ao redor.

O silêncio da CPI quanto a figuras da política deixa o senador Rodrigo Cunha em situação constrangedora. Único nome de Alagoas a integrar a comissão, o bolsonarista no armário se saiu com uma frase palanqueira após o relatório. Segundo ele, agora a empresa e seus dirigentes vão sentir “a mão forte da Justiça”. Estivesse mesmo com a disposição de esclarecer os fatos, Cunha deveria cobrar informações do prefeito JHC.

Mas em relação a João Henrique Caldas, a mão do senador é protetora. O aliado de Cunha “foi pra cima da Braskem” – como ele dizia na campanha – e saiu com 1,7 bilhão de reais nos cofres da prefeitura. O acordo de pai pra filho rende depósitos ao longo do ano eleitoral. Num arranjo familiar – típico da “nova política” –, o senador de Arapiraca negocia a vaga de vice na chapa com JHC. A mãe do prefeito assume o Senado.

Com esse padrão de conduta que renova a velha política, é natural que Rodrigo Cunha não veja problema no acordão entre o prefeito e a Braskem – a empresa que merece a mão forte da Justiça. O desempenho do senador na CPI serviu apenas às suas pretensões pessoais. Deve usar o caso no palanque eleitoral, disfarçado de valente que enfrentou poderosos. É uma ofensa às vítimas da maior calamidade urbana do país.