Colecionadores de armas, atiradores e caçadores. No governo Bolsonaro, esse coletivo saiu do controle e, nos casos mais graves, virou um caminho para fornecer arsenal ao crime organizado. O que seria um inocente CAC (a sigla que identifica a rapaziada) é na verdade parte do braço armado do “novo cangaço”. Quem diz isso são as investigações que se espalham em diferentes regiões do país, inclusive por aqui.
As mais recentes quadrilhas descobertas renderam notícia nesta terça-feira – e uma delas envolve um elo com Arapiraca. Dezoito acusados foram presos em Pernambuco e na Bahia. O esquema abastecia grupos criminosos nos dois estados e em Alagoas. Armas ilegais apreendidas em operações eram desviadas para lojas que as repassavam para os chamados CACs. Após a “lavagem”, a encomenda chegava às facções.
Esta operação da Polícia Federal levou o nome de Fogo Amigo. Porque as armas entregues à bandidagem, no fim das contas, acabavam sendo usadas contra as próprias forças policiais no enfrentamento às quadrilhas. Ou seja, além de não proteger as famílias, a política armamentista de Bolsonaro serviu para destruir vidas de inocentes.
Em outra operação da PF, em SP, 13 pessoas foram presas, entre elas quatro CACs. De novo, o desmonte de uma gang formada para compor o estoque dos “cangaceiros” que atacam cidades, explodem agências bancárias e cometem assassinatos. O bando tem conexões na Bahia, no Maranhão e no Piauí. 4 milhões de reais foram bloqueados.
Uma das taras de Bolsonaro era o armamento da população. O pretexto: dar a todos o direito de “autodefesa”. O que se viu foi uma farra generalizada, sem controle do poder público. A trama golpista que durou quatro anos tinha na formação de milícias uma de suas pontas estratégicas. É a receita de regimes autoritários mundo afora.
Para barrar o avanço dessa calamidade, o STF agiu para anular decretos que facilitavam o acesso a todo tipo de armamento de fogo. A disposição do governo anterior era autorizar a aquisição de dezenas de armas e milhares de munições por uma única pessoa. “Cidadãos de bem” foram às ruas em defesa da política da morte.
Apesar de estudos e estatísticas provarem cabalmente o erro fatal dessa investida, desclassificados da política seguem defendendo a filosofia que só ajuda à criminalidade. É o caso de legisladores do quilate de Fabio Costa, Cabo Bebeto e Leonardo Dias. É a turma que vive sob o lema “uma pistola na cintura e nada na cabeça”.
Com novas diretrizes no Ministério da Justiça, o governo Lula deu um freio nesse desmantelo. Mas o estrago de um mandato inteiro segue alimentando o caos. Muitos dos que se valeram dos decretos, e se registraram como CAC, não querem fechar a janela de negócios. Pode jogar o avanço do crime na conta dos patriotas.