O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, reclamou do “excesso” de doações às vítimas da tragédia provocada pela chuva. Segundo ele, isso prejudica o comércio local. A lógica seria mais ou menos a seguinte: sendo abastecido com os produtos doados, o povo para de comprar aos empresários gaúchos. Esta já é considerada a ideia mais desastrosa que um político já expôs diante de uma calamidade de tal magnitude.
As redes sociais vieram abaixo com a declaração do tucano da geração Y. No dia seguinte, massacrado pela opinião pública, ele tentou remendar o estrago. Não foi bem assim, veja, bem... A acanhada retratação não apaga os efeitos de suas palavras na entrevista que deu à Band News. O que seria um pedido de desculpas passou longe disso. O governador não assumiu o erro claramente, como seria sua obrigação.
Mas de onde Eduardo Leite tirou a asneira que defendeu com tanta ênfase, embora de modo enviesado, como que disfarçando a gravidade da coisa? Ao contrário do que tenta sustentar agora, não foi um mal-entendido. Aquilo não surgiu em sua mente por uma ventania repentina. Não. Era um pensamento elaborado, com origem e história. É por isso que sua entrevista revela algo muito grave, que ele tenta minimizar.
O raciocínio liga uma visão de mundo e um movimento político. Em outras palavras, o homem público que dá prioridade aos negócios e age segundo o interesse eleitoral. Ao longo do mandato, Leite governou na contramão do zelo com o meio ambiente. Em sua terra, a boiada passou pra valer. É o que está registrado em ações que desmontaram leis de prevenção a acidentes climáticos. Agora, posa com colete da Defesa Civil.
A outra variável dessa equação é a eleição de 2026. Depois do vexame ao tentar se candidatar a presidente em 2022, sua fixação é a disputa daqui a dois anos. Para se viabilizar contra o provável candidato Lula, Leite bajula a direita e o bolsonarismo. Para ter sucesso nessa operação, toda barbaridade não é nada. É isso o que explica as atitudes e o discurso do governador – mesmo cercado por destruição e mortes.
Um desastre como o que ocorre no RS cobra um preço dos governantes no poder. Vale para as três esferas. Não tem santo em nenhum dos palácios. Lula e Sebastião Melo (prefeito de Porto Alegre) também falaram uma bobagem ou outra. Mas nada que se compare ao padrão exibido pelo governador. Em cada fala, um erro de avaliação e a prioridade no que é secundário. Até agora, Leite se apequena frente aos desafios.