Com variações, a frase que está no título acima foi a mais repetida na imprensa brasileira nas últimas 24 horas. O mercado reagiu rápido. O mercado reagiu de modo negativo. A reação do mercado não foi boa. O nervosismo tomou conta do mercado. O mercado avalia com cautela. O mercado isso e aquilo. A razão que provocou esse terremoto no país foi a demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras. E agora?
A deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, reclamou da “gritaria do mercado”. Um desses especialistas que batem ponto no noticiário econômico garantiu que “o mercado mostrou forte preocupação” com a troca de comando na maior empresa brasileira. Ninguém sabe o que vai ocorrer com a mudança decidida pelo governo. Mas todos foram informados sobre os sentimentos deste senhor, Sua Excelência, o Mercado.
Nos quatro anos de Bolsonaro presidente, um legítimo representante do mercado deu as cartas na economia brasileira. Paulo Guedes fez carreira a serviço da elite financeira que ganha dinheiro sem produzir um prego. O importante são as ações na Bolsa e os títulos negociados na especulação do chamado rentismo. Nesse mundo mágico, políticas sociais são tratadas como inimigos do “equilíbrio fiscal”.
No atual governo, Lula teria escolhido Fernando Haddad para ministro da Fazenda por ser um nome palatável ao sistema financeiro – o velho mercado. É preciso “sinalizar” aos donos do dinheiro que na cadeira não está um adepto da “gastança” com programas de distribuição de renda. É a escola de Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central. Se tem superávit, tudo bem em nossa caminhada.
No dia seguinte à demissão de Prates, a notícia do caos: ações da Petrobras desabam nas bolsas, e a empresa “perde 34 bilhões de reais em valor de mercado”. Diabos! Parece o fim do mundo. Como está sua vida depois dessa catástrofe? Não se preocupe. A oscilação deste “valor” não move uma palha de coqueiro na Pajuçara. Amanhã, pode apostar, os valores oscilam de novo – para cima. Aconteceu milhares de vezes.
O que mais causa estranheza é a compulsão para medir os “sentimentos” de um ente imaterial, digamos assim. Recorre-se à personificação para dar gravidade à presepada. Ao mercado se atribuiu nervosismo, tensão, pessimismo, desconfiança, preocupação etc. Tamanha sensibilidade, no entanto, não se materializa numa face. O mercado não tem rosto. Porta-vozes fazem o trabalho sujo para o topo da pirâmide.