Até ontem, bolsonaristas e militantes da extrema direita estavam nas ruas com o slogan “intervenção militar com Bolsonaro presidente”. Fábio Costa e Leonardo Dias deliravam com esse idealismo democrático. Para os patriotas, nada nem ninguém merecia tanta reverência quanto os integrantes das Forças Armadas. Entre tantos atos de heroísmo que fizeram pelo país, os generais nos livraram da “ameaça comunista”.
A maior demonstração de fidelidade e confiança nos militares foram os acampamentos diante dos quartéis em 2022. O problema é que aquela turba enlouquecida esperava de seus ídolos fardados o que eles não tinham como entregar: barrar Lula e impor um regime sob o comando de Bolsonaro. A expectativa estava plenamente assentada no histórico de golpismo que remonta a Deodoro e Floriano. Dessa vez, não deu.
Golpistas de todos os matizes, portanto, se sentem traídos. Com a mente e o fígado em chamas, trocaram o amor eterno pelo ódio ao glorioso Exército de Caxias. Desde a posse de Lula, o ressentimento fermenta a alma desses seres atormentados. E tudo isso explodiu agora na tragédia do Rio Grande do Sul. “Civil salva civil”, esbravejam pelas redes sociais e até no parlamento. Ou seja, desprezo pela tropa militar.
A consultoria Quaest mediu o tamanho da fúria. Segundo dados da pesquisa, divulgada pelo UOL, “70% das menções ao Exército nas redes sociais são negativas”. Boa parte desse conteúdo, é claro, recorre a fake news. Para chegar ao resultado, a pesquisa varreu as seis principais redes sociais além de sites de notícia. É um massacre sobre a presença das Forças, principalmente do Exército. O que pensar sobre essa realidade?
A primeira ideia que me ocorre é: o Exército cavou o buraco para enfiar sua reputação. De Pazuello a Braga Neto, não faltam exemplos do padrão de lixeira moral que vigorou em quatro anos de mandato. Bolsonaro comprou a instituição com milhares de cargos, privilégios e benesses de todas as patentes. Em momentos críticos, a cúpula agiu de modo pusilânime, com notas que atiçavam a pregação de ruptura institucional.
A História diante de nossos olhos, com avanços, retrocessos e reviravoltas. A esquerda não tem motivos para nutrir simpatia às Forças Armadas – e suponho que não preciso explicar. Agora, parece que boa parte da velha (e da nova) direita mudou de lado – ao menos nas atuais circunstâncias. Como os militares vão interpretar essa incômoda novidade? Um bom começo seria admitir erros e atualizar ideias e princípios medievais.