Políticos, com e sem mandato, não fazem outra coisa a não ser produzir fake news sobre a tragédia no Rio Grande do Sul. De Carla Zambelli a Deltan Dallagnol, a lista é interminável. Chega a ser aborrecido escrever sobre essa miséria hoje onipresente na vida brasileira. Mas a realidade é que não se trata mais de casos isolados, de episódios restritos a períodos de curta duração. É uma ação generalizada no cotidiano.
Nos primórdios – ou seja, um dia desses –, a coisa era vista como algo meio folclórico, material de mentes com dificuldades de lidar com a lógica. Acreditar em Terra plana era ideia de malucos e fanáticos. Rejeitar que seres humanos chegaram à Lua, também. Combater a vacinação que salva vidas era fruto de grupos aferrados a crenças de ordem sobrenatural. Exceções à ordem da racionalidade, eram mentiras com alcance paroquial.
Muito rapidamente, consolidou-se uma prática rotineira, nada casual, com métodos, senso de oportunidade e metas. E, claro, para chegar a esse grau de organização, com amplo alcance e poder destrutivo, a fake news se transformou em arma da política. Uma postagem nas redes de um deputado, um humorista ou um prefeito nada tem de espontâneo. É ação planejada, parte de uma cadeia trabalhando numa direção.
A loucura é que o termo “fake news” ganhou o mundo com Donald Trump. Na disputa eleitoral americana, era ele quem reclamava de ser “vítima” de histórias “falsas” publicadas na imprensa. Bolsonaro, o facínora, copiou a tática, esbravejando contra o jornalismo no Brasil. Mas a vitimização era teatro para desqualificar acusações sobre atos criminosos bem reais. O outro lado da moeda está resumido no gabinete do ódio.
Hoje está demonstrado que temos uma verdadeira Indústria de Fake News, com operação internacional a serviço da extrema direita. Para tocar a guerra em defesa do obscurantismo e de tiranetes que lideram o movimento, vale qualquer baixeza. É por aí que se pode entender o que ocorre agora no RS. O desalento, a destruição e as mortes não rendem solidariedade e respeito às vítimas. São apenas armas da guerra suja.
A artilharia das falsidades tem alvos específicos. A imprensa, as Forças Armadas e o governo federal são atacados sistematicamente. Por quê? Porque bolsonaristas e a extrema direita atribuem a esse trio o fracasso do golpe tramado ao longo de quatro anos. Os objetivos imediatos são as eleições e a delirante campanha de anistia para Bolsonaro. Para isso, quanto mais caótico o ambiente político, melhor para a canalha.
A indústria da mentira é desafio inédito para a democracia. Realidade que veio pra ficar.