Quando um sujeito entra no debate com a frase “não sou mais homem do que ninguém”, já perdeu. O que diabos significa essa afirmação? Ou, como diriam redatores da geração Z, “o que está por trás” desse aviso que se pretende solene? Você nunca ouviu uma mulher recorrer a um argumento de tal natureza. Reencontrei a frase no comentário do vereador Kelmann Vieira publicado por Ricardo Mota. Isso tem história.

Outros fanfarrões da política já deram o mesmo recado em resposta a desafetos. Geralmente, a sentença ocorre em cenário conflagrado, no qual as partes trocam farpas e acusações, beirando a agressão física. Aliás, o aviso recorrente apela à modéstia de perfil para comunicar o contrário. O “não sou” significa que o falante é macho pra valer. É a afirmação pela via da negação. Foi o que ouvi nas aulas de análise do discurso.

A presepada retórica tem parentes próximos na discurseira pouco confiável que se vê na vida pública. Uma das construções problemáticas é “sou amigo dos meus amigos”. É ainda mais deletéria do que aquela sobre ser mais (ou menos) homem que o outro. Amizade é relação de mão dupla. Mas “o amigo dos amigos” é mais amigo que o amigo comum. Isso não é amizade, é um pacto de lealdade incondicional. Coisa de mafioso.

A macheza também se manifesta na exaltação da “palavra dada”. Arthur Lira e Antônio Albuquerque gostam de citar esse traço no delicado conjunto de suas qualidades morais e políticas. À primeira vista, parece tudo bem. A encrenca é o contexto. “Palavra dada” é irmã do acordo feito à base do “fio do bigode”. Repare que a prosódia toda confirma o machismo no enunciado das ideias, com a linguagem que demarca os limites.

Falei em contexto. Esses princípios de conduta, digamos assim, brotam e fincam raízes nos quintais e nos pastos, em varandas e espaços gourmet, em vaquejadas e cruzeiros. São arranjos da esfera privada, de relações subterrâneas. Esse padrão de comportamento não pode ser contrabandeado para o terreno das instituições.

No lugar da “palavra dada” em convescotes secretos, autoridades devem assinar compromissos públicos por meio de documentos. A regra do “fio do bigode” é com senhorzinho e capanga. No campo institucional, parâmetro é o respeito à Lei. Termos abrutalhados, na gramática do personalismo, revelam o autoritarismo em ação.