A notícia não parece combinar com o panorama dos últimos anos, aqui e no mundo inteiro. Enquanto emissoras não param de anunciar demissões decorrentes de uma crise sem fim, vem aí mais um canal de TV com jornalismo 24 horas por dia. Trata-se da CNBC Brasil, um projeto de Douglas Tavolaro, o mesmo nome que, cinco anos atrás, trouxe a CNN para cá. A luxuosa sede está sendo montada em São Paulo.
No mês passado, a jornalista Christiane Pelajo foi anunciada como o primeiro nome de peso a integrar o novo veículo (foto). Com cerca de 30 anos de Globo e Globonews, ela deve comandar o principal telejornal da casa. A emissora será um tipo de franquia da gigante americana que também atua na Europa e na Ásia. Vendendo seu peixe com exagero, Tavolaro garante que será uma nova experiência para o jornalismo brasileiro.
O executivo foi vice-presidente de Jornalismo da Record por 17 anos e escreveu a biografia de Edir Macedo. Estranhamente saiu da CNN apenas um ano depois da estreia. Ainda segundo suas entrevistas sobre o novo projeto, a CNBC terá também reality shows e eventos esportivos. No ambiente saturado das TVs por assinatura, que tentam se adequar às novidades digitais, o otimismo do jornalista soa até delirante.
A nova emissora entra numa briga que tem, além da Globonews e CNN, a BandNews e a Jovem Pan News. Também com jornalismo 24h, a Record News é a única com sinal aberto. Nos últimos anos, todas registraram perda de audiência e prejuízo. Nas quatro empresas, repórteres, apresentadores e comentaristas são demitidos com uma frequência que denuncia gestões em pânico. Afinal, quem ainda vê tanta notícia?
Entusiastas do metaverso, fanáticos da inteligência artificial e aloprados da geração Z defendem a morte da televisão. É o que escuto falar sobre essa gente vanguardeira. Sem querer ser redundante, num cenário tão inóspito será preciso quase um milagre para viabilizar com sucesso um novo canal de TV. Tavolaro não conta, mas, numa operação de risco como essa, há investimento a fundo perdido. Uma aposta no escuro.