Eu e você somos livres para denunciar todo mundo. Isso não significa que todo mundo seja culpado de tudo. Para acusar qualquer um por qualquer coisa, pode-se recorrer à polícia, ao Ministério Público, à Justiça. É um direito universal previsto na lei brasileira. Mal completara um ano de mandato, Lula já era alvo de 20 pedidos de impeachment, todos recheados de “acusações” que preenchem quilômetros de páginas e volumes.

Quando a primeira ação que pede a destituição do presidente foi protocolada junto à Mesa da Câmara, o petista tinha um mês e poucos dias no cargo. Foi isso mesmo que você leu. A oposição não respeitou nem aquela regra sobre os 100 dias de crédito para o novo governante. Desse jeito, tamanha ansiedade pelo ataque consegue uma proeza infernal – Lula não teve tempo nem de errar! Dá pra levar a sério a “denúncia”?   

O denuncismo é uma tática milenar no jogo do poder. O histórico da Lava-Jato reúne todos os paradigmas desse tipo de atuação política disfarçada de combate à corrupção. Quando agentes do Judiciário e do MP se associam às jogadas da politicagem, aí danou-se. Escândalos que proliferam em ano eleitoral são tão previsíveis quanto o raiar de um novo dia depois de cada noite. Como diria Nelson Rodrigues, é batata!

As demandas acusatórias da turma de Rodrigo Cunha encontraram respaldo no MP Eleitoral de Alagoas. Os alvos são o ministro Renan Filho, o governador Paulo Dantas e – surpresa! – o candidato a prefeito Rafael Brito. Fenômeno idêntico deu-se em 2022. Deputado federal, Brito é apoiado por Renan e Dantas para enfrentar João Henrique Caldas. O senador Cunha é cotado para vice de JHC, num arranjo com Arthur Lira.

A acusação: uso irregular de projeto para a educação quando o deputado era o secretário da área. Não se fala em desvio de recursos – até porque não há dúvida de que os investimentos chegam na ponta. Ou seja, a iniciativa contempla escolas e estudantes na integralidade do que se propõe. O “crime” teria sido o suposto uso eleitoral do programa. Para sustentar essa versão, é claro, não basta o requinte da eloquência.

Pelo que se publicou até agora, trata-se de uma questão interpretativa. As alegações da peça acusatória se resumem numa leitura muito particular a respeito de eventos, datas, números e anúncios. Não esqueçamos: retórica envenenada e convicção foram as “provas” produzidas contra Lula e outros alvos daquela operação delinquente. PowerPoint não é argumento de procurador. É falácia. E isso desmoraliza quem acusa.

Não faz nem duas semanas que outra “gravíssima denúncia” do mesmo Rodrigo Cunha contra Paulo Dantas foi julgada no TRE. O caso era sobre a liberação de emendas impositivas a parlamentares. É uma operação rotineira, prevista na legislação. Mas, para aliados de Cunha e doutores do MP Eleitoral, haveria provas “explosivas” de ilegalidade. Por 7 x 0, a fragilidade da tese foi triturada no julgamento. Vitória do governador.

Assim como prefeitos e governadores país afora, Paulo Dantas é alvo de denúncia a cada semana. Isso inclui o próprio JHC, com encrencas a explicar. Não sabemos se o governador e o deputado Rafael Brito são culpados ou inocentes. Agora, achar que denúncia barulhenta em ano eleitoral é coincidência não faz sentido. A não ser para um ET que tenha vindo se bronzear em Maceió no feriado de primeiro de maio.