As manifestações culturais definem a identidade de um povo, preservam a sua memória e estimulam o seu pertencimento. Eu tive a honra de conversar com representantes desse segmento em Maceió, quando pude ouvir suas lutas e anseios, no primeiro encontro “Fala Maceió”. A ideia é debater com diversos setores sobre projetos e ações que eles têm para nossa sociedade.
O que pude perceber no decorrer da reunião é que a cultura da nossa capital vem sendo maltratada, humilhada e, por que não dizer, esquecida. Os próprios artistas presentes denunciam a política de apagamento cultural promovida pela atual gestão municipal, que só valoriza as atrações nacionais, que aumentam sua visibilidade e engajamento nas redes sociais.
Os grandes eventos promovidos pela prefeitura, que deveriam envolver e valorizar o segmento local, optam pela contratação de artistas de fora, com cachês milionários mostram o zero compromisso com nossas raízes e tradições, com a preservação da nossa identidade e valores culturais.
Na reunião com os verdadeiros guardiões da nossa cultura, ouvi e senti suas demandas, mas principalmente suas queixas com o descaso e a falta de apoio da atual administração. Por mais de quatro horas, pude aprender muito sobre nossa arte em suas mais variadas manifestações, recolhendo informações preciosas sobre como podemos apoiar o segmento.
Representantes da música, dança, teatro, artesanato, audiovisual, literatura, folclore, artes plásticas, puderam contar o quanto anseiam por apoio, espaço e reconhecimento. Tudo que eles pedem é empatia e abertura de diálogo, essenciais às relações humanas.
No desabafo das lideranças, pude sentir toda a indignação do setor cultural, mas também comprovei que eles mantêm firmes a capacidade de continuar criando, encantando e promovendo a arte em Maceió.
Entre vários pontos que foram levantados, eles pedem a democratização do acesso aos recursos públicos destinados ao setor, através de editais e políticas próprias de fomento. Anseiam pelo mapeamento da produção artística, um calendário oficial de eventos e um espaço multicultural que abrigue apresentações, oficinas e ensaios.
Os nossos fazedores de cultura pedem capacitação, atenção aos pequenos produtores e estratégias para formação de público. Ao meu ver, todas as demandas são possíveis de serem atendidas e apontam para a falta de políticas claras para o segmento, uma maior participação social e o protagonismo dos nossos artistas.
As mudanças constantes de gestores municipais tanto na secretaria quanto na fundação de cultura afastam ainda mais o contato com os artistas, que não conseguem sequer ser recebidos, numa total falta de respeito às demandas do setor. É constante a reclamação nas redes sociais e veículos de comunicação sobre a falta ou atraso de pagamentos de cachês e editais.
O descaso é tanto que desde o ano passado não havia eleição para o Conselho Municipal de Cultura. Mas, para surpresa de todos, na última terça-feira, dia 29, após sete meses de abandono, a prefeitura publicou um decreto recriando o Conselho, sem qualquer respaldo da sociedade civil e dos artistas.
É mais um duro golpe no modelo de gestão participativa conquistado nos últimos anos pelo Conselho, desconsiderando o que vinha sendo acordado com os fazedores de cultura.
A primeira reunião do “Fala Maceió” com os nossos artistas foi apenas o começo, mas já me deixou importantes lições. Me comprometi com todos presentes que voltaremos a nos encontrar para apresentar propostas para o segmento a partir de tudo que foi discutido nesse primeiro momento.
Eu acredito no diálogo e na construção coletiva. Além da cultura, vou ter encontros com representantes do turismo, dos esportes e do meio ambiente. Quero falar com lojistas, urbanistas e o segmento industrial.
É essencial essa escuta ativa com todos os setores, a saúde, a educação, a assistência social, a juventude. Quero continuar aprendendo, ouvir anseios e principalmente coletar dados e informações para que possamos, juntos, construir projetos e entregar ações que de fato, mudem a vida dos maceioenses.