Manhã de domingo chuvarenta, impregnada de um  estranho  mormaço que acende zoada no   juízo e atordoa a epiderme.

O mormaço é feito braseiro que insufla a água em corpos, que transbordam.

Transpiração!

Passos costumeiros cruzam quadras humanas, beligerantes, um corredor um tanto despovoado, das conhecidas multidões hiperbólicas, com seus cães. 

Castas.

Chove!

Atravesso sob o céu descampado de políticas públicas, de verdade, o caminho até a rua, ladrilhada de pedrinhas cortantes.

Quitéria é uma moradora, em situação  de rua,  faz mais de uma década.

Preta, idosa, analfabeta, alcoólatra.

E, Quitéria reúne em torno das palavras,  atropeladas pelo azáfama do nada ter, um punhado de saberes, para além dos padrões sociais.

A sabedoria dos sobreviventes.

Rustica e com a sofisticação das verdades, sem metáforas.

A filosofia do desapego.

E hoje, em um domingo molhado de chuva, saí ,e, senti um vácuo por não ter encontrado, Quitéria.

As conversas que tinha com ela, em universos, díspares, enchia a alma de possibilidades.

Sinto falta da sua sabedoria.

Ancestralidade.

Espero que esteja bem.