Com a ampliação do acesso a métodos anticoncepcionais e ao planejamento familiar, cada vez mais pessoas estão optando por procedimentos médicos que impeçam a reprodução, como a vasectomia. Porém, o acesso à cirurgia, que pode ser feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ainda é desconhecido por parte da população.
Em Alagoas, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) esclarece que a Rede Estadual de Saúde disponibiliza a cirurgia de vasectomia no Hospital Metropolitano de Alagoas (HMA), em Maceió. Para ter acesso ao procedimento, o paciente deve agendar uma consulta com um urologista, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade de residência.
Procedimento minimamente invasivo
O urologista Mário Ronalsa ressalta que a vasectomia é um procedimento minimamente invasivo e bastante rápido. Ele esclarece que o método de esterilização masculino obedece sempre aos mesmos fundamentos cirúrgicos.
“São raras as complicações desse procedimento cirúrgico. Não há necessidade de internamento hospitalar e o paciente retorna às suas atividades laborais após 24 horas”, tranquiliza Mário.
Mário reforça que, em nenhum momento, a cirurgia altera ou traz prejuízos à líbido e à função sexual do paciente. “Ela apenas inviabiliza a fertilidade masculina”.
O urologista chama a atenção para os casos em que o paciente se arrepende do procedimento. “Em alguns casos, é comum o arrependimento algum tempo após o procedimento cirúrgico”.
Por isso, o médico explica que o principal fator a ser considerado para a cirurgia não é nem as dificuldades do procedimento em si, mas sim o real desejo do paciente de não mais ter filhos.
“Em termos gerais, o principal aspecto a ser considerado é a real conscientização e decisão em submeter-se à cirurgia”, pontua.

Como é feita a vasectomia?
Ao CadaMinuto, o urologista Fabricio Ramos conta como é realizado o procedimento da vasectomia. Ele explica que a cirurgia consiste em uma incisão para isolar o ducto deferente, que é a estrutura responsável por levar o espermatozoide do testículo até o ducto ejaculatório.
Fabrício destaca que o procedimento é simples e dura em média cerca de 20 a 25 minutos. “É feita uma incisão de um 1 cm a 1,5 cm na região lateral, tanto da bolsa escrotal direita quanto da bolsa escrotal esquerda”. O doutor explica que é retirado uma parte do ducto deferente para impedir que os espermatozoides saiam durante a ejaculação.
Para que o procedimento seja feito, é importante que o paciente passe primeiro por uma consulta médica com um urologista.
“O paciente tem que procurar um médico primeiramente e, depois, esperar pelo menos um tempo de 60 dias desde a manifestação oralmente do desejo de realizar a vasectomia até a realização do procedimento propriamente dito”, informa.
Na consulta serão pedidos alguns exames pré-operatórios como: exames de sangue, um eletrocardiograma e um parecer cardiológico, além de um parecer psicológico.
“É recomendado pelo Ministério da Saúde ter tanto o parecer cardiológico quanto esse parecer psicológico. O paciente vai a consulta com o psicólogo, que vai afirmar se o paciente está em condições psíquicas e mentais de que está certo e seguro de realizar o procedimento”, salienta.

A vasectomia é reversível?
Apesar de ser um processo de esterilização, a vasectomia não é permanente. Segundo o urologista Fabrício Ramos, ela pode ser reversível.
“Com auxílio de microscópio, nós conseguimos fazer a recanalização dos ductos deferentes, que foram anteriormente cortados. É uma cirurgia bem mais delicada e complexa”, alerta o especialista.
O médico salienta que quanto maior o prazo, desde a vasectomia até o desejo de fazer a reversão, menor é a chance de ter sucesso na reversibilidade, mas que isso não é uma regra.
“Há relatos de alguns casos de pacientes que mesmo após 20 anos de vasectomia conseguiram reverter o procedimento e gestaram o seu companheiro. Pode acontecer”.
Cuidados no período de recuperação
De acordo com o urologista Fabrício Ramos, a recuperação é rápida e o paciente sai do hospital no mesmo dia da cirurgia, passando geralmente por um período de repouso relativo de sete dias em casa.
“Nesse tempo, o paciente usa o suspensório escrotal, para manter sempre a bolsa escrotal elevada, próxima ao corpo, para evitar que haja muita movimentação e, consequentemente, provocar mais inchaço”, pontua.
O médico explica que, após a cirurgia, dificilmente o paciente vai ter alguma complicação ou sequela. “O que ele pode sentir é um desconforto momentâneo causado pela manipulação cirúrgica, com a duração de até seis meses após o procedimento cirúrgico”.
Durante o pós-operatório, é recomendável que o paciente faça um procedimento conhecido como Crioterapia, que consiste em colocar gelo na bolsa escrotal para diminuir o desconforto, a formação do inchaço e os possíveis hematomas que podem aparecer.
O médico ressalta também que é indicado ao paciente realizar cerca de 20 a 25 ejaculações mensalmente para que, se houver algum espermatozoide acima do local onde foi feito a incisão, o canal seja completamente esvaziado.
Fabrício ressalta que, nos primeiros 60 dias após a cirurgia, o paciente só está apto a realizar atividade sexual com o preservativo a fim de evitar uma gravidez indesejada.
“O paciente só é liberado para realizar a atividade sexual sem o preservativo após o espermograma ser feito e constatar que não há mais espermatozoides”, elucida.
Mudança na Lei
Em 2022, houve uma alteração na Lei 14.443, que trata sobre a Laqueadura/Vasectomia no Brasil. Antes a idade mínima masculina para realizar a vasectomia era 25 anos, após a lei passou a ser 21 anos.
No atual momento, a lei estabelece que não é mais necessária a autorização do parceiro (a) para a realização do procedimento, tanto no caso da laqueadura quanto da vasectomia.
“Eu posso dizer que foi uma mudança muito considerável no tocante a essa questão de esterilização tanto masculina, quanto feminina”, afirma o urologista, Fabrício Ramos.
De acordo com o médico, é necessário sempre um cuidado maior em indicar uma vasectomia para um paciente mais jovem, pois é maior a chance de arrependimento no futuro.