@aquilesmarchel escreve e o blog republica:
“Meu primeiro sonho, como de muitas crianças brasileiras, foi ser jogador de futebol. Óbvio que como todo sonho, esse desejo era alimentado pelo lúdico, pela imagem dos dribles, da torcida ensandecida. Eu era muito novo para entender sobre dinheiro envolvido. Só queria bater falta como o Marcelinho Carioca e driblar feito o Ronaldo Fenômeno.
Tantos anos depois e vejo como essa classe de futebolistas é a imagem do desperdício. Desperdício pois em um país pobre, não tem consciência de classe. Desperdício pois sendo atletas pretos em um país que sofre com racismo, não tem consciência racial. Desperdício por terem alcance e influência para influenciar outros homens a serem melhores, perpetuam violência ou são coniventes com ela.
Sim, se pode argumentar que esses homens saem meninos das comunidades, sem nenhuma alternativa a não ser vencer no futebol, sem nenhum suporte educacional ou psicológico e por isso não dá para esperar muito. Só que estamos em 2024 e o dinheiro que lhes garante acesso aos espaços antes impossíveis, também lhes fornece possibilidade de ouvir o clamor de parte da sociedade carente de exemplos positivos.
Será que Daniel Alves e Neymar esqueceram de onde vieram? A julgar pelo que conhecemos do Neymar Pai, o filho não teve a melhor das orientações éticas. Do Daniel Alves, sei apenas que não precisa de muito para saber que estupro é abominável.
Qual a mensagem que ambos passam e que é reproduzido por seus fãs? Que corporativismo masculino vale a pena e que mulheres são subproduto do sucesso financeiro, devendo ser posse a qualquer custo.
Neymar diminuiu pela metade o tempo de cadeia do amigo ao pagar a multa da lei espanhola. Cristão, cidadão de bem, defensor do "bandido bom é bandido morto", mas depende do bandido. Não o meu amigo, não o que abusa sexualmente e mente em várias versões em depoimento.
Os jogadores de futebol são os únicos negros que teriam poder de mudar a mentalidade de um país de forma massiva e em pouco tempo, mas é muito dinheiro, muita bolha de proteção e manutenção constante da ignorância. Eles não se importam
O mundo do futebol me desiludiu e minha paixão esfriou.”