Sobre a polêmica de Lula, Holocausto e Netanyahu, está muito claro que o assunto tomou uma proporção inimaginável. Entretanto, as reações do governo israelenses possuem razões para além dos argumentos que constam dos discursos de suas autoridades.
É evidente que Lula se equivocou ao comparar dois acontecimentos que têm explicações diferentes, tempos distintos e proporções desiguais. Mas, não errou em algo incomum entre eles: a violência e a barbárie.
Foi para isso que ele buscou chamar atenção, algo que o mundo testemunha e líderes internacionais não têm a coragem de condenar explicitamente. Ele condenou à sua maneira. A gravidade do momento é tão assustadora contra o povo palestino, que sua fala tomou como exemplo um fato histórico muito caro para os judeus: o holocausto. O exemplo foi ruim? Lula pode ter errado na forma (o exemplo tomado) mas foi certeiro no conteúdo de sua crítica. Também foi cirúrgico no tempo em que sua crítica foi "disparada", senão vejamos.
Assim como o Estado nazista praticou crimes contra a humanidade, o Estado sionista governado pela extrema-direita está praticando crimes contra a humanidade, exterminando milhares de crianças e mulheres, gente inocente que não devia pagar pelos crimes cometidos pelo terrorismo do Hamas.
Aliás, há anos que esse mesmo Estado sionista controla as fronteiras da Faixa de Gaza e vigia, permanentemente, os territórios ocupados pelos palestinos na Cisjordânia. O que entra o que sai, alimentos e pessoas, fornecimento de água e energia, fluxo migratório etc. Uma espécie de “campos de concentração” modernos, onde o garrote contra as liberdades pode ser apertado ou afrouxado na medida das circunstâncias e necessidades de Israel determinarem. Nesse momento estão sendo destruídos esses espaços.
Evidente que Israel tem todo o direito de defesa e reagir contra o Hamas, desde o momento que foi atacado e judeus também inocentes foram mortos. Entretanto, por trás desse direito internacional há uma motivação maior: devastar Gaza e ampliar o espaço territorial israelense, com acesso privilegiado às fontes petróleo e gás do mediterrâneo, que já vêm sendo exploradas na costa norte. Aumentar a extensão dessa exploração rumo ao sul, instalando e do controlando infraestruturas de produção onde na Faixa de Gaza é uma das maiores motivações da extrapolação do direito internacional.
O avanço das forças bélicas israelenses sob Rafah seria o próximo e complexo movimento de Netanyahu. E pode ser uma atrocidade ainda maior no contexto dessa guerra.
A declaração de Lula provocando as reações rápidas e inconsequentes do premier de extrema direita, juntamente com sua diplomacia, demonstram o grande incômodo que o Presidente brasileiro provocou nas estratégias bélicas de Israel nesse momento, chamando a atenção da opinião pública para aprofundamento da barbárie no Oriente Médio.
O governo brasileiro não deve ceder as chantagens do chanceler israelense, Israel Katz, pois seu comportamento não honra os princípios da diplomacia. Tampouco ao governo extremista, que tem mentido de maneira desavergonhada em suas redes sociais, intoxicando ainda mais esse conflito político com objetivo de ganhar a opinião pública interna, já que Netanyahu não consegue, mesmo com a guerra, ter junto a população de Israel a metade da popularidade que Lula possui hoje no Brasil.