Manhã preguiçosa de sábado na orla de Maceió, a luz do sol escaldante incendeia um copo transbordante da “água que passarinho não bebe", aperitivo matinal de uma jovem mulher negra, com idade improvável, entre os 20 anos e a atemporalidade desalenta.
Uma jovem mulher negra, moradora em situação de rua, tropeçando nas desesperanças, alma explodindo em gargalhadas desenxabidas.
A jovem me lembra Quitéria, a idosa, em uma versão de outros tempos..
Duas mulheres negras, pobres, periféricas e submersas no ocaso e na estereotipia do discurso racista.
O racismo é complexo e imperceptível aos olhos de quem não o vê ou sente.
Qual o momento que pessoas se abandonam, se auto desleixam e rompem com o ciclo da dignidade?
O que é dignidade?
Não sei o nome da jovem negra , mas, acredito que Quitéria, a idosa, a reconheceria como um retrato 3x4 de um passado, apesar de distante, bem próximo..
São corpos negros sem valor social, suspeitos, criminalizados, desumanizados.
-Coroa me dá dinheiro?-pediu a moça , ao cabra, tropeçando nas palavras embriagadas de vida.
Mulher negra à disposição?
Um dia será possível inverter a lógica do racismo, que determina lugares de negr@s?
Porque muita gente sabe que o racismo existe, mas ninguém se acha racista.
Você é assim?
Apagamentos.