Maceió foi vítima de um crime ambiental cometido por décadas, cujas as consequências para o futuro são difíceis de fazer previsões.
Desde que se jogou luz sobre os frutos nefastos da forma como feita a mineração da sal-gema na capital alagoana, por conta do afundamento de solo, mais de 60 mil maceioenses tiveram suas vidas afetadas de forma direta.
Essas pessoas ainda sofrem discutindo valores de indenização por terem sido expulsos dos locais onde construíram suas vidas, suas histórias, suas memórias. Convivem com a dor da perda do passado associada a uma série de incertezas, que levaram muitos a desenvolverem depressão, doenças várias, enfim...
Na audiência pública, na Câmara dos Deputados, promovida pelo deputado federal Alfredo Gaspar de Mendonça (União Brasil), os maceioenses presenciaram informações técnicas de que a situação de afundamento de solo era sabida desde 2004, além das suspeitas de negligência de órgãos ambientais de fiscalização para com o que acontecia debaixo do solo maceioense.
Temos cinco bairros esvaziados; patrimônio público perdido; a incerteza do que será feito naquela área no futuro; perdas materiais e imateriais; o isolamento de um lindo bairro com seus casarões, como é Bebedouro, dentre tantas outras questões poderiam ser listadas, envolvendo pessoas que perderam seus sonhos, suas empresas, perderam seus lares (palavra que define muito melhor do que “casas” ou “residências”).
Mas, mesmo assim, o maceioense vítima dessa tragédia ainda é obrigado a ler as declarações do presidente da Petrobras, o Jean Paul Prates, que afirmou - em entrevista para a Folhapress - que a Braskem está agindo corretamente em relação à emergência em suas minas na capital de Alagoas.
Senhor Prates, venha ao Estado e veja o esforço hercúleo de alguns - enquanto muitos tentam ser heróis políticos - para que se fossem firmados acordos para se ter o mínimo, quando ainda nem se sabia toda a dimensão da tragédia, como ainda não se sabe hoje... a Braskem foi cobrada a agir numa verdadeira luta contra um Golias, pois no que dependesse da empresa petroquímica - sem que houvesse os órgãos ministeriais e outros autores - o que já foi conquistado sequer teria sido feito.
Neste momento, por exemplo, a Braskem se nega a cumprir ordem judicial para a realocação de pessoas no Bom Parto e em outras regiões que compõem um novo mapa de risco. Todos os dias temos o defensor público de Alagoas, Ricardo Melro, falando do assunto em nossas mídias e cobrando algumas das autoridades, bem como citando a importância da realocação.
Fora isso, se Maceió - e suas autoridades - não se fizerem atentas, a empresa Braskem pode ainda ficar com parte da cidade. Esta é uma discussão que preocupa, que já gerou uma lei municipal do vereador Leonardo Dias (PL), que prevê que não haja construções na área até que se defina o que será do espaço com o Plano Diretor.
Em sentido semelhante temos o governo do Estado falando do uso público, com a construção de um Parque Ambiental.
Enfim, formas de tentar fazer com que quem cometeu o crime não venha a se beneficiar do produto do crime. Por sinal, podem procurar em algum local a Braskem assumindo de forma clara e objetiva - com todas as letras - a responsabilidade pelo afundamento de solo. Não encontrarão.
Mas, para Jean Paul Prates - que comanda a estatal acionista da Braskem - a empresa vem cumprindo o seu papel junto aos maceioenses ao reparar os danos. Ele ainda tem, conforme a Folhapress, a capacidade de produzir declarações como estas, em seu confortável escritório burocrático: "É uma área que foi monitorada, as pessoas foram retiradas de lá. Claro que isso é um trauma para a população, mas evidentemente tem solução. E não estamos falando de ameaça de vidas diretamente".
O senhor Prates sabe das ameaças diárias nas vidas das pessoas que se encontram em processo de completo ilhamento social? Essas localidades viraram pequenas “ilhas” numa selva de ruínas! Não, Prates não sabe.
É um escárnio se afirmar que a Braskem tem atuado “muito corretamente” neste episódio.
Vejam, conforme a Folhapress, Prates não disse apenas “corretamente”, mas “muito corretamente”.
O que Prates busca é atingir a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Braskem por conta do governo que ele representa - o do presidente Lula - e de parte do PT ser contrária à CPI em razão de algo simples de compreender: os respingos na Petrobras e as negociações em andamento para a venda da Braskem.
É por isso que o presidente da Petrobras também coloca, ao falar da CPI: "Vai ser uma situação de, digamos menos de investigação e mais de conhecimento público da questão. E talvez, espero, muito de conciliação agora. É um caso sério. É um caso complicado, envolve muitas famílias, mas tem solução".
E a CPI pode sim contribuir com muita coisa, desde que não vire palco dos interesses políticos paroquiais de alguns...
No mais, solução - senhor Jean Paul Prates - é que todos os maceioenses buscam, sobretudo os afetados diretamente pela tragédia ambiental. Eis a batalha judicial - em muitos momentos - com a gigante que tem agido “muito corretamente”.
Por sorte, não precisamos de Jean Paul Prates na busca por solucionar uma questão tão complexa e que prejudicou a vida de muitos. Quanto ao presidente da Petrobras, se ficar calado sobre o assunto, conseguirá ser um poeta!