Com a indicação de parte dos membros para a composição da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Braskem do Senado Federal, eis que - após muita demora em razão das resistência dos bastidores políticos - a proposta do senador Renan Calheiros (MDB) deve sair do papel.
Na próxima semana, a CPI deve ser oficialmente instalada, já que apesar da Comissão não ter todos os nomes, possui maioria, tanto no corpo titular quanto nas suplências.
Em relação à sua composição, os três senadores alagoanos estarão presentes. Como suplente, Fernando Farias (MDB) - que se encontra no cargo em virtude do senador eleito Renan Filho (MDB) ter se afastado para assumir o Ministério dos Transportes - estará na Comissão. Como titulares, lá também estarão Renan Calheiros (MDB) e Rodrigo Cunha (Podemos).
Nos próximos dias é esperado que a Comissão eleja presidente e relator. Um dos cargos - por ser o propositor - deve ficar nas mãos do emedebista Renan Calheiros.
A presença de Cunha e Calheiros na Comissão - ambos com seus grupos políticos paroquiais definidos - pode levar ao Senado Federal os reflexos das disputas locais, uma vez que Renan Calheiros pode se utilizar do palco aberto para investigar a Braskem para questionar assuntos incômodos ao prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL), como o bloco político emedebista já vem fazendo sob a batuta do maestro-mor dessa orquestra.
Estarão na pauta, no que depender de Calheiros, o acordo bilionário fechado entre o Executivo municipal da capital alagoana e a empresa petroquímica (no valor de R$ 1,7 bilhão), os questionamentos sobre a transparência no gasto destes recursos e, evidentemente, a tentativa de expor a Prefeitura de Maceió por não ter incluído as vítimas da tragédia neste acordo, nem ter destinado parte do montante para estas. Estes são apenas alguns dos pontos que podem mirar o governo de JHC.
Do outro lado, Rodrigo Cunha pode levar ao palco da CPI os questionamentos sobre as licenas ambientais, como foco no Instituto do Meio Ambiente durante a gestão estadual emedebista, pontuar o afastamento que a gestão do ex-governador Renan Filho (MDB) teve do problema que afetava Maceió, questões envolvendo a Agência Nacional de Mineração e sobre a época em que o senador Renan Calheiros esteve em cargo importante da antiga Salgema, atual Braskem.
Não há dúvidas de que Cunha buscará ser o anteparo de JHC na Comissão.
A briga política desde a divulgação do risco de colapso da mina de número 18 da Braskem tem tomado conta dos palcos em que “emedebistas” e “jhczistas” se encontram. A Câmara Municipal de Maceió - por exemplo - tem vivido este clima, como ocorreu no mais recente embate entre os vereadores João Catunda (Progressistas) e Kelmann Vieira (Podemos).
O primeiro citado - aliado político de JHC - usou da tribuna por duas vezes para atacar frontalmente o senador Renan Calheiros, inclusive o chamado de “maior ladrão do país”. A expressão de Catunda foi o suficiente para que Vieira endurecesse o discurso, defendesse Renan Calheiros e lembrasse das investigações sobre os “kits de robótica” que aponta para o deputado federal Arthur Lira (Progressistas), um dos mais importantes aliados políticos de Catunda.
Bem, quando o assunto são as polêmicas que Calheiros e Lira colecionam, estamos diante de um rol de manchetes jornalísticas que podem ser servidas ao gosto do freguês...
Em todo caso, os ataques e as trocas de farpa vão subindo de tom a cada nova discussão que envolve a Braskem e o crime que a petroquímica cometeu em Maceió. Mas, para além das preocupações com a tragédia ambiental e seus reflexos, há também a tentativa dos blocos políticos tentarem desgastar um ao outro, implantar suas narrativas, pensando - evidentemente - no ano de 2024.