A sensação que temos ao percorrer as ruas de Entremontes, que fica às margens do São Francisco no município de Piranhas, é de revisitar o passado. Como o próprio nome indica, o conjunto de casas coloniais coloridas fica encravado entre morros e montes dando ao lugar características muito originais. Ao chegar pelo rio, experimentamos a mesma emoção de D. Pedro II que avistou o povoado em 1859, quando subia o Velho Chico em direção à cachoeira de Paulo Afonso.
Os Caminhos do Imperador, como passou a ser chamado o roteiro dessa aventura do monarca, é mais um destino da nossa Rota Cultural, que já está no ar e para você assistir basta clicar aqui. Como já contei em outros artigos, nossa série está dividida em temporadas e episódios, sempre visitando uma região diferente de Alagoas. O objetivo é divulgar a riqueza da nossa cultura e da nossa gente, com um misto de emoção e curiosidade como convém a todo bom relato de viagem.
O Sertão é, sobretudo, um estado de espírito. O clima, a vegetação, a culinária e, sobretudo, o sertanejo, me inspiram a descobrir as histórias que estão por trás desses lugares. Em Entremontes, conheci as mulheres que fazem a fama do povoado, conhecido como a Capital do Bordado. Fui recebida pela Dona Anália, que nos mostrou lindas peças em rendendê, ponto cruz e crochê.
Ela conta que a tradição é passada de geração em geração, criando um vínculo emocional entre as moradoras e suas famílias. São trabalhos que ganham cores e formas, criando roupas, colchas, toalhas e uma infinidade de itens que são disputados por admiradores e lojistas do Brasil inteiro. O artesanato local tem uma força tão grande que já é exportado para outros países, transformando os produtos de Entremontes em destaques da nossa economia criativa.
Mas não são apenas artesãos e pescadores que fazem a fama da região. Fatos importantes da história do Nordeste e do Brasil aconteceram naquelas margens, marcando também o imaginário coletivo. A visita do Imperador Pedro II, como já mencionamos, é um deles. Mas, no século XX, outros personagens tiveram seus destinos traçados nesse território. Eu estou falando de Lampião, Maria Bonita e seu bando, cuja história é contada de forma minuciosa na Rota do Cangaço.
O passeio, com guias vestidos com os trajes típicos dos cangaceiros, segue uma trilha que mistura segredos, lendas e memórias. A volante policial, comandada por João Bezerra da Silva, alcançou o grupo na Grota do Angico, na outra margem do São Francisco. Mortos e decapitados, Lampião, Maria Bonita e outros homens e mulheres que integravam o bando tiveram suas cabeças expostas em Piranhas, numa demonstração de força e vaidade.
Percorrer a Rota do Cangaço é mergulhar no turismo de experiências que vem caracterizando os destinos do Sertão de Alagoas. Além dos passeios, sempre contando histórias e desbravando os cânions do Velho Chico, esses roteiros contam com um artesanato original e único, mas também com uma gastronomia que inclui produtos locais e receitas ancestrais.
Para provar essas iguarias, encerro o episódio no município vizinho, Olho D'Água do Casado, visitando a simpática Cláudia, conhecida por todos na região depois de uma participação no quadro Lar Doce Lar, do apresentador Luciano Huck, da Rede Globo. Com a fama, a casa reformada abriga um aconchegante restaurante caseiro, que serve vaca atolada, feijão verde e outros acompanhamentos sertanejos. É mais uma experiência que vale a pena ser vivida.
Nós já estamos produzindo mais uma temporada da Rota Cultural, com novos episódios apresentando outras paisagens. Vamos cobrir todas as regiões do Estado, revelando personagens, contando histórias e destacando casos bem sucedidos da economia criativa. É um projeto que envolve cultura, tradição, história, memória e, principalmente, a nossa gente. Um povo lindo e valente que não cansa de me surpreender e de me inspirar. Simples assim.