Você já parou para pensar como nascem os heróis? Na cultura ocidental, a literatura e o cinema criaram personagens que fazem parte do nosso imaginário coletivo e traduzem o arquétipo do defensor corajoso que combate a injustiça e a opressão. Mas, e seu eu contar para vocês que a nossa história está repleta de heróis de verdade e um dos mais importantes é alagoano?
Eu estou falando de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do Brasil, que se estendia por quase toda a zona da mata do nosso estado, no período colonial. É essa história de luta e resistência que celebramos hoje, 20 de novembro, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Aqui vale a pena recordar esse fato único da nossa história.
Entre 1632 e 1696, ou seja, por 64 anos, cerca de 20 mil homens, mulheres e crianças viveram uma utopia após serem escravizados na África e trazidos para as plantações de cana de açúcar na colônia portuguesa. A população dos mocambos reunia pretos, pardos e mestiços, que começaram a formar a chamada "República dos Palmares" nos primeiros anos da invasão holandesa em Pernambuco.
Embora a morte do líder palmarino conte com mais de uma versão, a data de hoje foi instituída como oficial e passou a simbolizar um dia de reflexão e ritualização na Serra da Barriga, em União dos Palmares. Como secretária de Estado da Cultura e da Economia Criativa tenho a honra e o privilégio de contribuir com a programação desse Mês da Consciência, o Novembro Negro.
As ações em Maceió culminam no grande evento que evoca a ancestralidade, os saberes e fazeres do povo negro, o Vamos Subir a Serra, que atrai a população alagoana e os turistas que visitam o nosso estado. Em União dos Palmares, somos parceiros da prefeitura e do Governo Federal, por meio da Fundação Palmares, em uma vasta programação na cidade e na Serra da Barriga. São oportunidades práticas de vivermos os "novos quilombos de Zumbi", como na letra da canção de Caetano Veloso.
Para além dessas grandiosas e necessárias comemorações, precisamos reforçar o caráter essencial dessa data: a consciência, a reparação e a representatividade. O Brasil foi a última nação do ocidente a abolir a escravatura, no fim do século XIX. Desde então, nunca houve a adoção de políticas públicas de inserção digna da população negra na sociedade.
Ao longo de todo século XX, diversas teorias e obras disseminaram o mito da "democracia racial", forjando a ideia de um convívio harmonioso entre as diferentes etnias presentes na formação do nosso país que, na prática, nunca se estabeleceu de forma completa. Desse modo, o chamado racismo estrutural foi sendo construído como parte do processo histórico de exclusão e preconceito.
É preciso adotar políticas que apoiem a luta antirracista na educação, na saúde, na cultura e em todos os programas de garantias dos direitos fundamentais do cidadão. Precisamos garantir as ações afirmativas e assegurar os direitos a todos que sofrem discriminação racial em nosso país.
Pretos e pardos formam a maioria da nossa população e são os que mais sofrem para conseguir estudar, trabalhar e ascender socialmente. Para a nossa tristeza, eles também são as maiores vítimas de homicídios e formam o maior contingente de encarcerados no Brasil.
Só existe uma forma de combater tudo isso: primeiro reconhecer nosso histórico de opressão e exclusão. Segundo, adotar políticas cada vez mais amplas de acesso e igualdade. Por fim, apostar na educação e na cultura para promover uma nova consciência baseada em respeito, respeito e respeito. Pode parecer redundante, mas essa é a regra essencial para vivermos em sociedade.