O meu mais novo projeto acabou de nascer e já estou apaixonada por ele. A Rota Cultural é uma série audiovisual que vai percorrer itinerários de Alagoas para apresentar a vocês tudo que a nossa terra tem de mais belo, criativo, relevante e rico. E não estou abordando só as paisagens deslumbrantes, o patrimônio histórico e arquitetônico ou os atrativos naturais. Eu falo, principalmente, do nosso povo, uma gente que transborda simpatia em tudo que faz e, por isso mesmo, encanta a todos. Somos acolhedores por natureza e isso precisa ser valorizado.

Sou uma facilitadora cultural que, atualmente, ocupa o cargo de secretária de Cultura e Economia Criativa do meu estado. É com esse espírito que resolvi pegar a estrada e revelar o meu olhar sobre roteiros afetivos de Alagoas. Quero trazer informação e, ao mesmo tempo, destacar pontos que traduzem uma memória coletiva, despertando o imaginário e o desejo de conhecer de perto esses lugares e essas pessoas que vou apresentar.

Como não poderia deixar de ser, o episódio de estreia da primeira temporada da série Rota Cultural foi Piranhas, a Lapinha do Sertão, minha terra amada, um dos destinos turísticos mais visitados de Alagoas. O município tem o Rio São Francisco como fio condutor de muitas histórias que fazem parte da vida de todo mundo que conhece o lugar. 

O nosso ponto de partida foi a Casa da Torre, um marco do centro histórico, erguido em 1879. Impossível visitar Piranhas e não se encantar por esse verdadeiro portal, que nos leva a outros tempos. De lá, seguimos para o Mirante do Bonfim, onde encontramos o querido Roberto Ramos, que nos contou um pouco da história da Capela do Senhor do Bonfim, construída antes de outra atração imperdível, o Mirante Secular. 

Junto à capela e seu cruzeiro cheio de pedras que representam pedidos feitos pelos visitantes, a gente encontra a Cápsula do Tempo, inaugurada na virada do século XXI. A construção moderna contrasta com a paisagem e guarda mensagens que os habitantes da cidade escreveram e que só vão ser reveladas depois de 100 anos, ou seja, quando for festejado o século XXII. Diga aí se não é uma linda homenagem que transcende gerações, tempo e espaço?

Nesse primeiro episódio, tivemos a chance de conversar com muitos moradores, ouvir suas histórias e também aprender um pouco mais sobre cultura, arte, gastronomia e memória. Devo confessar que Piranhas mexe muito comigo. As minhas lembranças de criança e adolescente se misturam com a minha trajetória como prefeita da cidade, uma passagem que muito me orgulha e me conecta diretamente com as pessoas. É muito bom se sentir querida a cada nova visita que faço.

De volta ao centro histórico, visitei o Conservatório de Música, um sobrado que já abrigou a cadeia pública e hospedou Dom Pedro II, durante sua passagem pela cidade, em 1859. Conversei com o maestro Willany Franciel e pude, mais uma vez, assistir a apresentação da Filarmônica de Piranhas, que sempre me emociona. A música é um dos maiores tesouros dessa terra que transborda arte e atravessa gerações. 

Prova disso é o legado do Mestre Egildo Vieira. Foi por conta do trabalho desenvolvido por ele que recebi, há 10 anos, o escritor Ariano Suassuna, escritor e criador do Movimento Armorial, cuja missão era produzir uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular nordestina, na música, na dança, no teatro, na literatura e nas artes plásticas. 

Egildo fez parte do movimento ao integrar o Quinteto Armorial, que incorporou suas composições e seus instrumentos, fabricados artesanalmente a partir de elementos retirados da natureza como cabaças, taquaras e cascas de coco. Neste primeiro episódio, podemos conferir o trecho de uma apresentação do Grupo Armorial de Piranhas, mantido pelos discípulos do mestre, que continua a inspirar muitos jovens que entram em contato com o universo mágico da música.

A nossa aventura se despede de Piranhas na Rota do Chico, um centro gastronômico que oferece inúmeras opções, desde os pratos mais tradicionais da nossa culinária regional até os cardápios mais consumidos em todo o mundo, como sanduíches e pizzas. É um ambiente descontraído, com música ao vivo, atrações culturais e muito lazer para as crianças.

A Rota Cultural pretende ser mais que uma agenda, um roteiro ou guia de viagem. Tem a missão de apresentar um relato pessoal, uma vivência, um pertencimento que faz parte de mim e que desejo compartilhar com vocês. Nessa primeira temporada ainda vamos visitar Delmiro Gouveia, Olho D'Água do Casado e o povoado ribeirinho de Entremontes. 

Essas viagens nasceram de uma necessidade de voltar a alguns lugares e conhecer outros, traçando um inventário pessoal que, como eu já disse, pretende ser também coletivo. Programar esses itinerários afetivos, transformados em rotas documentadas em imagens e textos, me permite conduzir uma narrativa desse nosso tempo: hiperconectado e tecnológico mas, acima de tudo, cheio de novas possibilidades e caminhos a serem explorados. Espero que gostem, é um projeto feito especialmente para vocês.